MOVIMENTO

A fantástica indústria da laranja

Publicado em 13 de março de 2002

Como o ano legislativo começou na segunda-feira após o carnaval, a maioria dos parlamentares correu para Brasília para o reinício dos trabalhos. Os parlamentares e Beth Costa, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Ela foi uma das primeiras a chegar à capital brasileira para retomar as negociações junto, basicamente, aos deputados oposicionistas a fim de que reconsiderem a posição no segundo turno de votação, que ainda não tem data para acontecer, já que a pauta começa pesada. Uma situação positiva para a Fenaj, que aproveita o tempo para tentar fazer com que alguns deputados mudem de posição.

Extra Classe – O que se pode esperar a partir da entrada do capital estrangeiro na mídia nacional?
Beth Costa – Aqui vai ser a indústria da laranja, do testa de ferro internacional. As conseqüências dessa votação de última hora serão nefastas para o Brasil.

EC – Não há como reverter o quadro?
Beth – Houve a tentativa de um acordo para melhorar o texto, mas com medidas inócuas, como garantir o emprego de mão-de-obra brasileira e editoriais nas mãos de brasileiros. Porém, o grande problema é a falta de um órgão regulador. A pauta correta e séria seria votar o modelo, qual tipo de comunicação é benéfica e necessária para o país. Depois é que vem a reforma. Antes de qualquer coisa deveriam ser votadas matérias como proibição do monopólio e regionalização da produção artística e jornalística. Depois, sim, se poderia discutir a entrada do capital estrangeiro.

EC – Que dificuldades a Fenaj está enfrentando nessa queda de braço?
Beth – A democratização dos meios de comunicação é fundamental, mas não conseguimos o convencimento da sociedade. Para ela, essa questão não está decodificada. É preciso ganhar segmentos da sociedade e tirar esse assunto do gueto. Enfrentamos dois problemas: a rapidez com que o projeto foi à votação na Câmara e, outro, a sociedade não ter conhecimento.

EC – Quem ganha e quem perde com isso?
Beth – A mídia está fazendo campanha aberta em defesa de seus interesses econômicos. E o empresariado internacional está preparado para entrar num mercado de terreno arrasado e apetitoso.

EC- Esse caso tem a ver com outras modificações trabalhistas?
Beth – Acho que é tudo orquestrado: demissões em massa de profissionais, especialmente nos grandes veículos, mudanças na CLT, fim da exigência do diploma de jornalista para o exercício profissional. O Brasil tem um dos modelos mais concentradores de comunicação. Lutamos pela democratização dos meios de comunicação, que inclui a democratização do mercado de trabalho.

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