Nova investigação
Em maio de 2011, funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego de Caxias do Sul libertaram jovens entre 15 e 17 anos que eram mantidos em regime de escravidão em uma fazenda de corte de pinus de Vacaria, no Rio Grande do Sul. A dura realidade a que eram submetidos os rapazes e as dificuldades em que viviam com suas famílias após a libertação foram denunciadas em reportagem publicada na edição nº 156, de agosto daquele ano, no jornal Extra Classe sob o título Setores da Economia gaúcha se beneficiam do Trabalho Escravo. Em 12 de abril deste ano, o proprietário da fazenda, Marcos Kuhn Adames, será novamente ouvido pela Justiça em uma audiência pública em Vacaria. Ele foi acusado de ter pressionado os adolescentes libertados a devolverem o dinheiro da indenização que haviam recebido por sua escravidão.
CRIME − “Depois que pagaram a indenização, no mesmo dia, Marcos (referindo-se a Marcos Kuhn Adames) reuniu os meninos e disse que, se devolvessem o dinheiro, eles teriam novamente emprego. Queriam que devolvessem até o Fundo de Garantia”, revelaram familiares. Os fatos foram apurados e comprovados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) de Caxias do Sul, o que gerou o ajuizamento de uma ação civil pública para que o empregador devolva aos menores os valores das verbas rescisórias originárias de seus contratos de trabalho, pague um valor referente ao dano moral a cada um deles, e seja condenado também por dano moral coletivo para compensar a lesão ocorrida à coletividade, “dada a gravidade da ilicitude praticada pelo empregador”, conforme informou o procurador Rodrigo Maffei. O nome dos rapazes é mantido em sigilo, seguindo as normas do Estatuto da Criança e do Adolescente, e também para evitar que eles e suas famílias sejam alvo de represálias.
Na época em que foi autuado por manter jovens e adultos trabalhando em péssimas condições e sem registro, Adames argumentou que desconhecia que havia adolescentes em sua área e que prestaria toda a assistência. Mas trabalhadores resgatados confirmaram que o proprietário foi pessoalmente ao local várias vezes e falou com eles.
REPORTAGEM − A reportagem do Extra Classe mostrou que o trabalho escravo do qual estes adolescentes foram vítimas faz parte de uma ampla cadeia que vai das fazendas até o consumidor final e que não há como romper o ciclo de exploração sem que todos os integrantes se conscientizem e façam a sua parte. As madeiras de pinus, por exemplo, abastecem o mercado interno brasileiro de construções e são exportadas. Naquela época, os números do Ministério do Trabalho indicavam 150 pessoas libertadas de trabalho escravo em fazendas de pinus e casca de acácia. Havia 40 mil casos de trabalho escravo registrados entre 2006 e 2011 no Brasil.
Lista suja
Foto: Igor Sperotto
Foto: Igor Sperotto