MOVIMENTO

Ocupa Brasília: repressão e reação

Manifestantes contra as reformas trabalhista, previdenciária e pró-Diretas Já foram reprimidos pelas forças policiais gerando tumulto e cenário de guerra
Por Cristina Ávila, de Brasília / Publicado em 24 de maio de 2017

Brasília - Centrais sindicais realizam manifestação em Brasília. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mesmo com a repressão e a violência policial, mais de 200 mil trabalhadores de todo o país ocuparam Brasília nesta quarta-feira, 24, para pressionar o Congresso Nacional a paralisar a tramitação das reformas Trabalhista e da Previdência e por eleições diretas já.

Na história recente, Brasília nunca viu o cenário que se retratou hoje. Uma multidão pacífica interminável que preencheu o Eixo Monumental da Torre de Televisão ao Congresso Nacional, em cerca de 3 km, sendo recebida por um aparato policial preparado para a guerra, em número de homens, viaturas e equipamentos. Todas as ruas nas imediações da Esplanada dos Ministérios foram interrompidas para o trânsito de veículos, e os estacionamentos que geralmente são ocupados por trabalhadores da Câmara e Senado estavam completamente vazios no início da tarde. Bombas estouraram durante a tarde toda e eram ouvidas de longe. Helicópteros sobrevoaram baixo os gramados.

“Cheguei já na adrenalina, e tomei um tiro de bala de borracha no cotovelo”, conta o fotógrafo Lúcio Távora, que mora em Salvador e estava trabalhando para uma agência de notícias de São Paulo. Era por volta das 16h e ele estava fazendo imagens em frente ao Congresso. “Foi uma cena de guerra urbana. Teve gente que tocou até fogo em alguns ministérios, eu vi fogo em um dos prédios perto do Itamaraty, no Ministério da Agricultura”.

Marcha foi pacífica até ação de repressão policial iniciar na parte da tarde

Foto: Cut/Divulgação

Marcha foi pacífica até ação de repressão policial iniciar na parte da tarde

Foto: Cut/Divulgação

Foi um dia de corre-corre. “A gente tentava correr, mas para onde ia encontrava bombas e terror. Me deu muito medo. Saiam policiais muito agressivos de todos os ministérios. Acho que usaram uma estratégia diferente para reprimir a população. Eu vi homens saindo de todos os blocos de ministérios”, conta a professora Edilânia Arruda, que veio de Porto Velho (RO), para participar do ato.

“Foi minha primeira experiência hoje, arde pra caramba o nariz, um desespero”, relata Ducelene da Silva Souza, estudante de enfermagem que mora em Brasília, e sentiu o gosto do gás de pimenta, quando estava nos gramados em frente ao Congresso. Acabei me perdendo da minha amiga porque estavam atirando balas de borracha contra nós e tinha muita fumaça. A gente tentou ficar de mão dada, mas não deu.”

Brasília - Centrais sindicais realizam manifestação em Brasília. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

No final da tarde, quando a multidão já estava voltando para os alojamentos, novamente enfrentou a repressão policial. A impressão era de que os homens estavam ávidos por encontrar motivos para agir, pois já não havia motivo nenhum para isso. Na Rodoviária do Plano Piloto, cerca de 1km distante do Congresso, um policial correu atrás de um manifestante com cassetete e outro jorrou no ar uma lufada de gás de pimenta. Moças e rapazes, gravando cenas com celular, escaparam para todos os lados. E a cena de perseguição acabou em fuga.

Neusa Souza, moradora de Salvador

Foto: Cristina Ávila

Neusa Souza, moradora de Salvador

Foto: Cristina Ávila

O bancário aposentado Paulo Beber, também morador de Brasília ficou indignado com a reação do governo às manifestações populares. “A cidade está repleta de viaturas por todos os lados. Não querem nos deixar ocupar o espaço público. Isso é típico de um governo autoritário que tem medo de povo”.

“A marcha foi linda. Fizemos uma caminhada muito bonita. Se a Polícia Militar está dizendo que éramos 150 mil, eu acho que a gente chegou a 200 mil”, afirma Neusa Souza, moradora de Salvador, acostumada a visitar Brasília em momentos de manifestações populares. Aposentada do Ministério da Saúde, e ativista do movimento dos previdenciários, ela diz que o objetivo era chegar em frente ao Congresso. “Mas uma barreira policial nos impediu de chegar, mais ou menos na altura do Itamaraty. Foi muito tenso. Muito muito tenso. Mas saio de alma lavada”.

Sindicalistas pretendem Greve Geral maior do que a de 28 de abril

O ato convocado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo repercutiu dentro do Congresso e a bancada de oposição ao governo Michel Temer (PMDB) chegou a ocupar a mesa da presidência da Câmara dos Deputados.

Brasília - Centrais sindicais realizam manifestação em Brasília. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Já nas imediações do Congresso, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, apontou essa como a maior marcha sobre a capital federal e destacou que mais uma Greve Geral deve vir por aí.

“Deram um golpe e não conseguem completar, o que significa fazer as reformas Trabalhista e da Previdência. Esse é o passo inicial da maior guerra que faremos contra esses golpistas para derrubar essas reformas. Vamos fazer uma greve geral maior do que fizemos no dia 28 de abril”, disse.

O dirigente ressaltou ainda a importância da CUT neste cenário e a necessidade da unidade da classe trabalhadora contra os retrocessos. “Se não conseguem entregar nossos direitos e discutir uma ditadura no Brasil é porque tem a CUT e seus sindicatos fazendo a luta. Essa foi a maior marcha da história dos trabalhadores no Brasil. Trouxemos mais de 200 mil por Diretas Já e precisamos levar essa luta para o cotidiano do país”, apontou.

Temer chama Forças Armadas para fazer a segurança até dia 31 de maio 

Brasília - Segurança é reforçada no Palácio do Planalto

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Segurança é reforçada pelo exército no Palácio do Planalto

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Para os sindicalistas, Temer foi incapaz de responder democraticamente às mobilizações e sem respaldo moral e político, e baixou uma Ação de Garantia da Ordem (AGA), autorizando as Forças Armadas a fazer a segurança do Distrito Federal até o dia 31 de maio, provável dia da votação da Reforma Trabalhista.  A medida também foi criticada por parlamentares e pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF.

Nota do Editor – Pressionado por parlamentares da base aliada e da oposição, de setores das próprias forças armadas e demais instituições e poderes,  Temer voltou atrás e revogou o decreto menos de 24 horas depois

(Com informações da CUT)

 

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