Fórum Contra a Violência pede a governadores atenção às famílias afetadas por acordos que acirram conflitos no campo
Foto: Agência Brasil
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O Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo, que reúne mais de 50 representantes de organizações da sociedade civil e do Poder Público ligadas à defesa dos direitos das populações campesinas – entre elas, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal (MPF), enviou comunicado aos governadores dos 26 estados e do Distrito Federal destacando sua preocupação com a informação de que o governo Bolsonaro pretende fechar acordos de conciliação com fazendeiros que questionam na Justiça a desapropriação de suas terras para fins de reforma agrária.
O colegiado destaca que a medida pode resultar em violações de direitos, visto que o próprio governo federal reconhece que em muitas dessas terras, em situação de litígio, encontram-se ocupações de famílias de trabalhadores rurais. “Esse é um fato que demanda bastante atenção e cautela por parte de todas as autoridades que, possivelmente, podem ser acionadas para colocar em prática eventuais decisões judicias de reintegração de posse dessas terras”, destaca o documento.
Segundo o Fórum, recentes relatórios produzidos pela Comissão Pastoral da Terra revelam que o número de conflitos agrários aumentou significativamente ao longo dos último anos – muitos, resultando em mortes de trabalhadores rurais. “Cabe salientar que nesses acampamentos estão assentados, também, mulheres, idosos e crianças em natural situação de vulnerabilidade”, ressalta o colegiado.
O Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo atua como agente articulador dos diversos segmentos impactados pelo encolhimento dos espaços de diálogo e pela desarticulação de estruturas voltadas à questão agrária. Sua reativação foi deliberada durante encontro promovido em 2016 pela PPFDC e a Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal (6CCR/MPF), em conjunto com mais de 50 representantes de organizações do Poder Público e de movimentos de indígenas, camponeses, pescadores, quilombolas e outras comunidades tradicionais.
AGILIDADE – Na última sexta-feira, 23, a PFDC encaminhou ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) recomendação para que revogue imediatamente – e deixe de publicar – resoluções que tratem de desistências de desapropriação, cancelamentos de títulos de dívida agrária ou arquivamento de processos administrativos. De acordo com a Procuradoria, o dispêndio de recursos e de emissão de títulos de dívida agrária nos processos de desapropriação se dá em etapas bem delimitadas, não sendo cabível a simples desistência, sem fundamentação, para desfazer uma série de atos já praticados e que demandaram custos para a Administração Pública.
O órgão do MPF também orientou à presidência do Incra e a todos os membros do Conselho Diretor da autarquia para que também adotem nos processos administrativos em curso medidas para a análise dos custos já dispendidos para a realização da reforma agrária em cada imóvel, discriminando os gastos e estipulando metas para a concretização dos processos.
O Incra também deverá promover análise global da política de reforma agrária e da previsão orçamentária, com a realização de planejamento para atendimento pleno dos casos em curso, além de audiência pública com os potenciais beneficiários envolvidos, de forma a conferir transparência às medidas que pretende adotar. A recomendação deve ser cumprida a partir de seu recebimento – sob pena das ações judiciais cabíveis, sem prejuízo da apuração da responsabilidade civil e criminal individual de agentes públicos.
* Com a Assessoria de Comunicação e Informação, da PFDC/MPF.