Comando de greve do Cpers é agredido pela BM em tentativa de audiência na Casa Civil
Foto: Flávio Ilha
A assembleia geral dos professores, que reuniu mais de 20 mil pessoas na Praça da Matriz na tarde desta terça-feira, 26, terminou em agressão a dirigentes sindicais por parte da Brigada Militar e com um saldo de oito pessoas feridas, entre elas a presidente do Cpers/Sindicato, Helenir Schürer. A dirigente precisou ser atendida no Hospital de Pronto Socorro (HPS) com um ferimento no lado direito da cabeça, provocado provavelmente por um objeto contundente. Outros professores do Comando também tiveram de ser atendidos no Pronto Socorro devido a problemas respiratórios causados pelo gás de pimenta.
Helenir era uma das 30 pessoas do Comando Estadual de Greve que aguardavam para ser recebidas pelo chefe da Casa Civil, Otomar Vivian. O grupo queria entregar um ofício pedindo a retirada do projeto de reestruturação administrativa do Estado, com mudanças no plano de carreira e perdas salariais, enviado pelo governador Eduardo Leite à Assembleia no dia 13 de novembro. O pacote, que reformula pontos essenciais do Plano de Carreira do Magistério, é uma das causas para a greve que iniciou na segunda-feira, 18. Aos gritos de “retira, retira” vindos da multidão, os professores do Comando Estadual de Greve se concentraram em frente ao Palácio à espera de Vivian.
As agressões começaram quando o grupo foi recebido pelo chefe da Casa Civil na calçada do Palácio, em pé, já que o Piratini estava tomado por tropas de choque da Brigada Militar. Revoltados, os professores que acompanhavam a assembleia romperam o isolamento e foram repelidos pela força policial com gás de pimenta e golpes de cassetete. Houve correria. Gradis e bandeiras foram arremessados contra os policiais, até que a porta principal foi fechada.
Além da presidente do Cpers, pelo menos outro professor ficou ferido na cabeça e teve de ser atendido no HPS. Rafael Claros, docente da Escola Estadual Souza Lobo, teve um corte profundo provocado também por um cassetete.
Greve continua com várias manifestações públicas
Foto: Leonardo Savaris
A assembleia reuniu uma multidão na Praça da Matriz. Antes da agressão, Helenir leu uma moção de apoio à greve elaborada pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). No documento, a entidade representativa dos 497 municípios gaúchos considera o pacote do governador um “retrocesso social num Estado que já foi exemplo político e social para o Brasil”.
Assinado pelo presidente da Famurs, Eduardo Russomano Freire, o documento afirma que a causa da crise fiscal do Estado “não está nos vencimentos dos servidores, em especial do magistério”, e considera “ultrajante” a proposta de uma alíquota de 4% de contribuição previdenciária para professores que recebem “pouco mais de uma salário mínimo”.
Além da Famurs, 217 Câmaras de Vereadores do Estado já aprovaram moções de apoio à greve dos professores e de repúdio às alterações no Plano de Carreira do magistério. Os municípios estão preocupados com a possibilidade de fechamento de escolas e da consequente repercussão nas economias locais, especialmente das cidades menores.
“Temos recebido apoio de muitos comerciantes locais, pais e alunos, simplesmente apavorados com a possibilidade de o pacote acabar com a educação pública. Para uma cidade pequena, a escola é muitas vezes o único polo de desenvolvimento, educação e cultura”, disse a presidente do Cpers/Sindicato.
A assembleia aprovou a agenda de mobilizações para os próximos dias. Na quinta-feira, 28,h “passeatas luminosas” em várias cidades do Estado como forma de envolver a comunidade nos objetivos da greve a partir das palavras de ordem “abrace a escola pública”.
Na sexta, 29, a Mostra Pedagógica vai ocupar a Praça da Matriz com exposição e apresentações das atividades das escolas públicas do Estado. E para a semana que vem está sendo preparado um grande ato de repúdio ao pacote de reforma administrativa em Pelotas – terra do governador Eduardo Leite. “Estamos preparando o maior ato da história das greves do Cpers”, anunciou Helenir.
A greve se manteve forte no seu sétimo dia, com cerca de 85% das escolas total ou parcialmente paralisadas, segundo dados apresentados pelo Ceprs/Sindicato.