Estudantes negros e pardos da Ufgrs marcam Dia da Consciência Negra
Foto: Igor Sperotto
A fotografia de estudantes negros e negras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) feita anualmente no pátio da reitoria, em Porto Alegre (RS), por ocasião do dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra – neste ano foi marcado por muita emoção. Coincide com a divulgação neste mês, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), de que pela primeira vez pardos e negros são maioria nas universidades do Brasil. Porém, a desigualdade de cor ou raça permanece forte e o racismo continua matando, agredindo e segregando milhares de pessoas no país.
Estudo do Ibge revela, por exemplo, que, no mercado de trabalho, os pretos ou pardos representavam em 2018 64,2% da população desocupada e 66,1% da população subutilizada. E, enquanto 34,6% dos trabalhadores brancos estavam em ocupações informais em 2018, entre os pretos ou pardos esse percentual era de 47,3%. Em relação à distribuição de renda, os pretos ou pardos representavam 75,2% do grupo formado pelos 10% da população com os menores rendimentos e apenas 27,7% dos 10% da população com os maiores rendimentos.
Foto: Igor Sperotto
O Dia da Consciência Negra na Ufrgs foi marcado por atividades culturais, como batalha de versos, teatro, dança e exposição. Também, deu início ao primeiro dia do seminário internacional que vai se estender até julho do ano que vem como uma das atividades promovidas pela Fundação Bienal do Mercosul, que terá como tema desta edição Universos Femininos. Segundo Sandra Maciel, que é uma das coordenadoras da atividade desta terça-feira, as atividades começaram com o tema Pensamentos Quilombolas, que se estendem pela tarde toda e culminam em uma marcha que parte do Largo Glênio Peres, no Centro, até o Zumbi de Palmares, na Terceira Perimetral. O encerramento do dia deverá ser em um ensaio da escola Imperador do Samba, ao lado do estádio Beira-Rio.
A data é de comemoração de conquistas, mas ainda de luta por muitas demandas. A estudante de psicologia Anandha Fonseca, da psicologia, diz que a data “é extremamente importante” para o fortalecimento da juventude negra inclusive dentro da própria Ufrgs. Quando entrou na faculdade, no primeiro semestre de 2018, ela e mais duas alunas eram as únicas negras da turma de calouros do vespertino.
“A turma tem pessoas bem bacanas. Mas eu nunca me senti à vontade. Procurei outra forma de me sentir bem na Universidade, e essa forma foi
Foto: Igor Sperotto
mudar para o noturno, que tem mais negros e mais pessoas que trabalham. Não sei explicar porque eu não me sentia a vontade no turno da manhã. Só sei que gosto muito de estar no noturno”, afirma Anandha, que faz freelancer como modelo e também como promotora de vendas.
Pamela Kremner, estudante de ciências sociais, 23 anos, considera que a questão tem ainda muitas demandas a serem trabalhadas. Ela é bolsista do programa Por Dentro da Ufrgs, e nessa atividade costuma ir a escolas públicas e privadas conversar com estudantes sobre assuntos como ingresso e permanência nas universidades, direito às cotas e outras ações afirmativas e políticas públicas para a inclusão de populações periféricas. Ela cita o primeiro cursinho pré-vestibular da escola Liberato Salzano, de Porto Alegre, em Sarandi, o primeiro da Zona Norte gratuito que prepara alunos para o ingresso na vida acadêmica.
A estudante da Ufrgs considera que o 20 de Novembro é uma das atividades importantes para a promoção de mudanças na sociedade. Apesar de muito jovem, ela sente que as lutas do movimento negro já trouxeram muitos resultados bem concretos. “Eu estava comentando com amigas que sinto que hoje os mais novos estão tendo mais consciência de raça. Eu sempre lidei com essas questões porque meu pai é mestre-sala de escola de samba. Eu tinha referências afros por causa dos carnavais. Mas acho que as crianças da minha idade não tinham, como vejo que as crianças de hoje têm. Acho que o 20 de Novembro tem esse papel de resgate histórico e de nossa autoestima”, ressalta a guria.