MOVIMENTO

Funcionalismo gaúcho amplia mobilização contra pacote do governo

Em Assembleia Unificada na praça da Matriz, professores e demais servidores prometem manter mobilização contra projeto de “reforma” e atrasos de salários
Por Flavio Ilha / Publicado em 10 de dezembro de 2019
A paralisação dos professores, que atinge mais de 80% da categoria, vai completar um mês, enquanto a greve dos servidores entrou na terceira semana

Foto: Igor Sperotto

A paralisação dos professores, que atinge mais de 80% da categoria, vai completar um mês, enquanto a greve dos servidores entrou na terceira semana

Foto: Igor Sperotto

Uma multidão ocupou na manhã desta terça-feira, 10, a praça da Matriz, no Centro de Porto Alegre, na terceira assembleia geral unificada dos funcionários e professores em greve. A paralisação dos professores, que atinge mais de 80% da categoria, vai completar um mês, enquanto a greve dos servidores entrou na terceira semana. Os dois movimentos continuam fortes, apesar da pressão do governo.

Os organizadores calcularam que mais de 20 mil pessoas estavam na assembleia, ocorrida sob uma temperatura alta e sol forte. Centenas de ônibus de várias cidades do interior, algumas a mais de 600 quilômetros de distância de Porto Alegre, engrossaram a reunião, que foi seguida de um ato e caminhada até a sede da Secretaria da Fazenda.

A greve reivindica a retirada do pacote de reforma administrativa da Assembleia, que tramita em regime de urgência, e a regularização do pagamento dos salários, que vêm sendo pagos em atraso e parcelados há 48 meses. Também pede reposição salarial para funcionários e professores, sem reajuste há cinco anos.

Helenir: “Estamos diante desse mar de gente graças à incompetência deste governo, que mentiu descaradamente durante a campanha sobre a situação dos serviços públicos no estado"

Foto: Igor Sperotto

Helenir: “Estamos diante desse mar de gente graças à incompetência deste governo, que mentiu descaradamente durante a campanha sobre a situação dos serviços públicos no estado”

Foto: Igor Sperotto

O principal alvo da manifestação foi o governador Eduardo Leite. Chamado de “mentiroso” e “caloteiro”, o governador cumpriu agenda em Brasília e não viu o ato. “Estamos diante desse mar de gente graças à incompetência deste governo, que mentiu descaradamente durante a campanha sobre a situação dos serviços públicos no estado. Ele não passa de um menino mimado que se esconde atrás da saia da mãe quando a coisa aperta”, discursou a presidente do Cpers-Sindicato, Helenir Schürer.

O pacote, entre outras aberrações, taxa os salários mais baixos de aposentados com desconto de alíquota previdenciária, retira a possibilidade de incorporação de vantagens de carreira nas aposentadorias e, no caso dos professores, mexe no plano de carreira desestimulando as especializações e pós-graduações.

Devido ao regime de urgência, a votação na Assembleia deve ocorrer já na semana que vem – se o pacote não for retirado. “Estamos assistindo à umas das greves mais valorosas da nossa história, sem possibilidade nenhuma de recuo. Se o governador acha que vamos recuar pela ameaça do corte de ponto de um salário que sequer é pago, saiba ele que está acendendo um barril de pólvora”, disse o diretor de Política Salarial do Sintergs, Antônio Augusto Rosa Medeiros.

Os dados das entidades representativas dos grevistas não deixam dúvida de que o movimento continua forte. Cerca de 90% dos técnicos agrícolas do Estado estão em greve, assim como a totalidade das coordenações de Saúde e técnicos de secretarias como Planejamento, Obras, Cultura e Turismo.

Assembleia Unificada do funcionalismo reuniu mais de 20 mil servidores sob intenso calor e forte aparato de segurança

Foto: Igor Sperotto

Assembleia Unificada do funcionalismo reuniu mais de 20 mil servidores sob intenso calor e forte aparato de segurança

Foto: Igor Sperotto

“Categorias que historicamente nunca fizeram greve estão aderindo. Até no Planejamento, nas barbas da secretária Leany (Lemos, secretária do Planejamento), que é a mãe desse pacote, os servidores estão parados. A nossa unidade vai garantir a derrubada desse pacote”, afirmou Diva Costa, presidente do Sindsepe.

O presidente do Sindicaixa, Erico Correa, conclamou os grevistas a manterem a mobilização. “Na semana que vem esta praça vai se transformar no quartel general de funcionários e professores porque vai ter guerra contra esse pacote”, discursou.

O ato também teve uma performance artística, que representou os danos do pacote na sociedade gaúcha e nas famílias dos servidores, e uma caminhada. Durante o trajeto, a multidão cantou palavras de ordem contra o governador, classificando-o como “caloteiro” e “ordinário”.

Policiais civis decidiram em assembleia que greve será deflagrada quando projeto do governo for à votação

Foto: Ugeirm/ Divulgação

Policiais civis decidiram em assembleia que greve será deflagrada quando projeto do governo for à votação

Foto: Ugeirm/ Divulgação

Na secretaria da Fazenda, os manifestantes foram recebidos por um forte aparato de segurança que envolveu soldados do batalhão de choque com armas e bombas de efeito moral. Os acessos ao prédio foram bloqueados. A manifestação terminou por volta do meio-dia.

Na Assembleia, um grupo de servidores da Susepe formou um “corredor polonês” na saída da reunião de líderes e gritou palavras de ordem contra o pacote. A categoria realiza uma caminhada na tarde desta terça-feira e promete operação-padrão contra as medidas. Os manifestantes gritavam aos deputados: “a cadeia vai parar/e o fogo vai pegar”.

SEGURANÇA PÚBLICA – Em assembleia realizada pelo Ugerirm-Sindicato, nesta terça-feira, 10, os servidores da Polícia Civil decidiram que entrarão em greve quando o pacote do governo for incluído na pauta da Assembleia Legislativa. A previsão é que o projeto vá à votação na próxima terça-feira.

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