MOVIMENTO

Tensão na luta por terras griladas no Pará

Mesmo sob ameaça de morte, Erasmo Teófilo, líder das 54 famílias de agricultores que disputam a terra grilada pelo fazendeiro Antônio Borges Peixoto, voltou para Anapu para acompanhar o processo
Por Clarinha Glock / Publicado em 4 de fevereiro de 2020
Tensão em posse de terras no Pará

Foto: Arquivo Pessoal Erasmo Teófilo

Dezenove pessoas foram assassinadas em Anapu desde 2005, de acordo com relatório da Comissão Pastoral da Terra. Na foto, Teófilo está ao centro, sentado na cadeira com a qual se locomove, cercado por lideranças de movimentos sociais que apoiaram seu retorno.

Foto: Arquivo Pessoal Erasmo Teófilo

Um clima de tensão marcou a volta de Erasmo Alves Teófilo a Anapu, no Pará, no último dia 30 de janeiro. Teófilo teve de deixar a cidade em dezembro de 2019 devido a ameaças de morte que passou a receber desde que começou a liderar a luta das comunidades dos lotes 96 e 97 da Gleba Bacajá, no interior de Anapu, pela posse da terra onde vivem.

As áreas são da União e estão em disputa na Justiça com o fazendeiro e grileiro Antônio Borges Peixoto. No dia 29 de janeiro havia acabado o prazo de um acordo judicial que permitia a Peixoto entrar no curral para vacinar seu gado enquanto não sai a decisão judicial de reintegração de posse ajuizada por Peixoto em desfavor das 54 famílias de agricultores.

O curral fica próximo à casa do agricultor Antonio Pereira de Souza, que retornou junto com Teófilo ao local. Dias antes, homens armados haviam intimidado um outro agricultor no terreno. A promotora Nayara Santos Negrão, titular da 6ª Promotoria Agrária de Altamira, está acompanhando o caso.

Danos ambientais não confirmados

Segundo a promotora, nos autos da ação de reintegração de posse Peixoto informou que as famílias estariam praticando danos ambientais na área, o que não foi confirmado pela Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) – o relatório indica que o desmatamento era anterior. “O processo está em fase de instrução, tendo sido determinado pelo Juiz da Vara Agrária que a Defensoria Agrária e o Ministério Público Agrário fossem intimados para se manifestar sobre o relatório da Deca”, observou.

Teófilo vai continuar em Anapu sob proteção do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos – uma equipe da Polícia Militar do Pará vai manter vigilância de sua casa. Ele teme por sua vida: “É a mesma polícia que acompanha Peixoto, mas tenho que continuar aqui, porque o processo está no final, e quero cumprir meu objetivo”. A luta de Teófilo é para que as famílias possam seguir no local de onde tiram seu sustento.

No caso de ser negada a reintegração de posse, Peixoto vai ter de deixar definitivamente a área. Ele já foi multado em cerca de R$ 900 mil pelo não cumprimento do acordo judicial, e ainda responde na Justiça por ameaça e invasão de domicílio.

Segundo informações de moradores de Anapu, os fazendeiros da região têm se reunido desde que Teófilo voltou à cidade. Essa movimentação provoca apreensão.

Dorothy Stang foi assassinada aos 73 anos de idade

Foto: CPT

Assassinatos na região

Dezenove pessoas foram assassinadas em Anapu desde 2005, de acordo com relatório da Comissão Pastoral da Terra. Entre elas, a missionária norte-americana Dorothy Stang, morta há exatos 15 anos no dia 12 de fevereiro de 2005.

Ativista dos direitos socioambientais e defensora de um projeto de sustentabilidade para a Amazônia, foi assassinada aos 73 anos, nas margens da Transamazônica.

A religiosa naturalizada brasileira vivia na região desde a década de 1970 e pressionou pela criação da reserva Esperança, projeto do Incra, onde foi emboscada por pistoleiros.

Para marcar a morte de Dorothy, haverá romarias e homenagens neste mês.

Dos 19 crimes cometidos contra agricultores, a maioria permanece impune.

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