Carreata por vacina, por impeachment e contra escalada autoritária de Bolsonaro
Foto: Igor Sperotto/Arquivo EC
No próximo domingo, 21 de fevereiro, a CUT-RS, centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de oposição realizarão em Porto Alegre, a quarta carreata pelo movimento Fora Bolsonaro, vacina já para todos e todas, volta do auxílio emergencial e impeachment já. A concentração será no final da manhã, a partir das 10 horas, na Rótula das Cuias, no Parque da Harmonia, com largada às 11h.
As carretas anteriores ocorreram respectivamente em 23, 31 de janeiro e 6 de fevereiro, levando centenas de veículos para as ruas da Capital, além de motos e bicicletas. Todos os participantes usaram máscaras e respeitaram o distanciamento social, de acordo com as recomendações sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Escalada autoritária
Foto: Reprodução/Twitter
O movimento, que ocorre em várias capitais brasileiras, encerrará a semana turbulenta, pós carnaval, quando o deputado federal bolsonarista, Daniel Silveira (PSL/RJ), foi preso na noite do dia 16 pela Polícia Federal, por diversos crimes decorrentes de vídeo que atenta conta a democracia e instituições democráticas. (Leia entrevista com o presidente da CUT/RS, no final desta matéria).
“Temos que continuar pressionando nas redes e nas ruas. Só assim será possível derrotar esse governo negacionista e genocida e a sua agenda de morte, retirada de direitos, privatizações e desmonte do estado e dos serviços públicos”, afirma o presidente da CUT-
RS, Amarildo Cenci.
11 mil mortes no RS
Ele destaca que a luta é também para que o governador Eduardo Leite (PSDB) compre vacinas contra a Covid-19 para acelerar a imunização do povo gaúcho. Na alteração do tarifaço, a Assembleia Legislativa aprovou emenda da bancada do PT que garante recursos para a aquisição de vacinas, se o Ministério da Saúde não assegurar. “Não é a troca semanal de bandeiras que protege a saúde da população, mas a aplicação da vacina para todos e todas”, salienta o dirigente sindical
O RS recebeu, até o momento, somente 704.400 doses de vacina contra o coronavírus, sendo 588.400 da CoronaVac e 116 mil da Oxford/AstraZeneca. Até as 18h desta terça, 358.487 pessoas foram imunizadas no estado, sendo 351.812 com a primeira dose e 6.675 com a segunda.
Enquanto isso, o Brasil já acumula mais de 240 mil mortes e quase 10 milhões de infectados pela Covid-19. O RS ultrapassou mais de 11 mil vidas perdidas e registra mais de 588 mil contaminados pela doença frente ao descaso de Bolsonaro com a proteção da saúde das pessoas.
Impeachment
O presidente da CUT-RS critica a demora do governo Jair Bolsonaro em retomar o auxílio emergencial de R$ 600, que foi pago a mais de 65 milhões de brasileiros no ano passado. “A pandemia não acabou e, por isso, é fundamental não somente para que haja assistência às famílias mais vulneráveis para enfrentar a fome, a miséria e a violência, como também para injetar recursos na economia e combater o desemprego”, alerta.
Para Amarildo, “a solução não passa por decretos de flexibilização do porte de armas, nem pela reforma administrativa do ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, que mira nos direitos dos servidores, mas visa acabar com os serviços públicos para privatizá-los”.
“Temos, portanto, muitas razões que tomar as ruas e avenidas e, de carreata em carreata, vamos aumentando a pressão sobre o Congresso para abrir o processo de impeachment. O país não pode continuar com um governo de militares, sem compromisso com a vida e os direitos do povo, e que pode estar armando um novo golpe contra a democracia e o Brasil”, conclui o dirigente da CUT-RS.
Vacinas e entraves
Nesta quarta-feira, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, acusou o Ministério da Saúde difucultar a cointratação para fornecimento de 54 milhões de doses da CoronaVac, que ainda não foi assinado porque o a pasta mudou o que havia sido acordado durante as tratativas.
A importância das ruas
Foto: Igor Sperotto/Arquivo EC
Em entrevista exclusiva ao Extra Classe na tarde desta quarta-feira, 17, o presidente da CUT/RS Amarildo Cenci avalia o contexto político da semana em que será realizada a carreata.
Extra Classe – Negar a vacina à população é também uma forma de controle do estado contra eventuais protestos?
Amarildo Cenci – Na verdade, a falta de vacinas contra covid-19 no Brasil é decorrência desse governo desde o início da pandemia. Isso se percebia com relação ao próprio novo coronavírus, chamado pelo presidente Bolsonaro de “gripezinha”. Depois, “não era tudo isso”, “algumas mortes são invitáveis”, dizia. Mais tarde o governo diss, “tudo bem vamos fazer alguma coisa”. No entanto não fizeram nenhum tipo de contratação para as vacinas no momento em que o mundo inteiro está aderindo a todas que estão surgindo.
EC – E o prejuízo econômico?
Cenci – Com isso vamos além do prejuízo das mortes, que já passa de 240 mil. Há um enorme prejuízo econômico. Na corrida da vacina, o Brasil saiu atrás de todo mundo. Com isso, nós ficaremos numa desvantagem competitiva absurda, o que nos atrasa ainda mais na retomada da economia. Respondendo a pergunta anterior, obviamente, a falta da vacina e um grande número de pessoas não vacinadas contribui para que as pessoas não vão para as ruas protestar. Já era difícil que fossem, dada a conjuntura recessiva, que deixa as pessoas temerárias. Sem vacina e com risco de contaminação também limita muito os movimentos sociais que possuem uma tradição de rua. Setores de ponta da militância que já possuem certa idade também contribui para que os atos não aconteçam. Isso favorece ao próprio governo, que mesmo tendo dinheiro, não há disponibilidade de vacina. E, as poucas disponíveis, o próprio poder público se encarrega de atrasar sua chegada nos destinos, travando as liberações por meio de trâmites burocráticos. O atraso é resultado dessa postura negacionista, que se somou à falta de competência do Ministério da Saúde. O Ministro Pazzuello deveria deixar o cargo, pois não possui nenhuma condição de permanecer e de coordenar a área. Não há insumos, mas há vacinas a serem contratadas e compradas de diversas origens. Agora, mais do que nunca o governo retarda a vacinação porque com uma parte das pessoas vacinadas também vai para as ruas um contingente de descontentes com governo.
EC – Diante dessa realidade de recrudescimento dos ataques contra a democracia a disputa das ruas se torna cada vez mais necessário e por quê?
Cenci – A presença nas ruas é algo que por si só já tem muita importância. Seriam milhões e milhões que deveriam ir às ruas para se somar. Mas num período de ano que precede o processo eleitoral. As ruas vão somando uma pressão sobre o Congresso Nacional, com relação às suas pautas no que se refere a ter mais políticas públicas para atender os amplos setores desempregados de mais de 14 milhões, mas tantos outros milhões, que estão na informalidade e na precarização, sem contar os que nem procuram mais trabalho, os chamados desalentados. Nesse contexto, sim, as ruas são um recurso fundamental. Sempre foi. E isso, é em todo o mundo. Está aí o Chile a Argentina que nos mostram. Foram as ruas que decidiram as eleições norte-americanas, que por pouco não reelegeu Trump. Na Europa e aqui, as tuas sempre deram um pouco a marca das mudanças políticas. Nem digo estruturais, mas político-eleitorais. As Diretas Já e a Constituição de 1988 foram resultado disso; a eleição do Collor, depois do movimento dos caras pintadas; a saída de Dilma Rousseff preparada pela direita. Em todos esses momentos as ruas se somaram e provocaram mudanças.
EC- As ruas são estatégicas?
Cenci – Sim. Por isso, voltar às ruas será estratégico, não só para frear essa ânsia neoliberal de reformas e retiradas de direitos, como também para aumentar a oposição e a avaliação negativa do governo, como também pressionar o Congresso e causando desgaste a todos aqueles que embarcaram no governo Bolsonaro. Porque as ruas fariam muitos desembarcarem. Bem-vindas às ruas que se somam às redes sociais. Mas sem as ruas não há como alterar minimamente este quadro.
EC – Na avaliação de alguns setores democráticos, a prisão do deputado Daniel Silveira é uma forma de tentar enfraquecer o STF via Congresso, como parte de um golpe institucional e de viés autoritário. Como a CUT vê esse movimento?
Cenci – Olha, a manifestação deste deputado em relação ao STF é um teste para a democracia. Se deixar passar eles avançam. Já passou um boi, quando lá atrás o Bolsonaro elogiou o Ustra e fez menção ao AI-5, que tinha que tinha que eliminar 30 mil pessoas. Ali, já a democracia transigiu e criou esse monstro que nós temos governando o Brasil. Agora, temos o deputado Daniel Silveira, que vem novamente testar os limites e desafiar as instituições. O STF tem de dar uma resposta e o Congresso também. Se a resposta não for dada à altura, aí é verdade, podemos estar entrando num processo de estreitamento e endurecimento do governo Bolsonaro em relação às estruturas institucionais quem tem de preservar a Democracia e as instituições. O STF se posicionou. Conforme o resultado no Congresso, teremos uma confirmação de que a democracia brasileira está fragilizada e que uma vez mais testada ela sucumbiu ao autoritarismo e ao desrespeito à Constituição.