Independentes e oposição vencem eleição para Constituinte chilena
Foto: Divulgação
A direita chilena, em especial o atual presidente Sebástian Piñera, sofreu grande derrota nas eleições para a formação da Assembleia Nacional que estabelecerá uma nova Constituição para o país. Candidatos independentes e da oposição terão juntos a maior parte de assentos na discussão que culminará com a Carta Magna que substituirá os regramentos que foram estabelecidos durante a ditadura Pinochet.
Foto: Su Hidalgo/ Midia Ninja
Outra novidade implantada no processo eleitoral que foi fruto da grande revolta popular que tomou conta do Chile em 2019 é que a constituinte do país andino é a primeira do mundo a ser formada com paridade de gênero. Segundo o mecanismo adotado no processo eleitoral, é garantido um mínimo de 45% de mulheres constituintes.
Indígenas que marcam forte presença no Chile, também garantiram uma cota de 17 vagas.
Até agora, com 99,91% dos votos apurados, os chamados independentes, sem partido, já conquistaram quase um terço da Assembleia (48 cadeiras).
Somados, independentes e as duas listas de partidos de oposição (Aprovar Dignidade, 28 assentos, e Lista de Aprovar, com 25) já ultrapassam dois terços das 155 vagas da Convenção.
Derrota de Piñera e partidos tradicionais
O cenário já deixa claro que o atual presidente do país que apoiou uma lista única direitista chamada Vamos por Chile não ultrapassará 37 posições na constituinte. É um número muito distante do um terço (52 cadeiras) necessários para influenciar no conteúdo da nova constituição e até se utilizar de possíveis vetos nos artigos que deverão ser aprovados.
fOTO: Marcelo Segura/ Presidência Chilena/ Divulgação
O resultado da votação é interpretado como uma punição para a direita que governa o país e os chamados partidos políticos tradicionais que obtiveram uma representação bem menor do que a esperada.
O próprio Piñera reconheceu que nem o governo nem os partidos tradicionais estão “sintonizados adequadamente com as demandas e desejos dos cidadãos”.
Mas, ao contrário do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro (se partido) já começou a colocar em dúvidas um possível resultado que lhe seja desfavorável nas eleições de 2022, o mandatário chileno é categórico:
“É nosso dever escutar com humildade e atenção a mensagem do povo”.
Chilenos contra o neoliberalismo
Foto: Marcelo Menna Barreto
A atual Constituição chilena é de 1980. Mesmo tendo sido modificada cosmeticamente algumas vezes, ela é criticada por ser herança do regime militar de Augusto Pinochet que consolidou um Estado com papel residual na prestação de serviços básicos para a população do país. O sistema de capitalização que substituiu a previdência, um modelo que o ministro de Economia Paulo Guedes queria importar para o Brasil, é um exemplo.
Esse sistema e outros que promovem a iniciativa privada em todos os setores da economia chilena – incluindo educação e saúde – que acabaram tornando o país em um dos mais desiguais entre as economias ditas avançadas, apesar de ser a maior per capita da América Latina.
A desigualdade que acabou sendo promovida pelos economistas da ditadura, os Chicago Boys, conhecidos assim por terem passados pelos bancos da Universidade de Chicago, como Guedes, foi a principal motivação dos protestos de 2019.
Naquele ambiente conturbado que tomou as ruas do país, a mudança da Constituição surgiu como a única saída para reformar o sistema que, para muitos, acabou transformando o Chile em uma “empresa privada”.
É exatamente o que pensa o professor Florencio Valenzuela Cortés, de Valparaíso. “Finalmente vencemos e vamos apagar esse triste momento de nossa história”, comemora.