Ainda precisamos de sindicatos?
Foto: AssCom/Sinpro/RS
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Participam desta vez, a economista Marilane Teixeira, pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Cesit/IE-Unicamp), o sociólogo Clemente Ganz Lucio, assessor técnico das centrais sindicais, professor e ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e o sociólogo Artur Henrique da Silva Santos, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e diretor da Fundação Perseu Abramo.
De acordo com o professor Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS, que será o mediador do próximo debate, o objetivo será discutir o papel dos sindicatos numa economia cada vez mais hegemonizada pelas concepções ultraliberais que marcam este início do século 21. “No Brasil, tivemos nos últimos anos o mais grave ataque aos sindicatos em toda a sua história, especialmente com a tentativa de inviabilização financeira das entidades, além da retórica regular de desmerecimento do papel dos sindicatos na sociedade”, contextualiza.
SEMANA MOVIMENTADA – O evento coincidiu de ocorrer às vésperas de duas grandes mobilizações dos movimentos sindicais e sociais, agendadas para os dias 18 e 19 de junho. Dez centrais sindicais – CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, CSB, CSP-Conlutas, Intersindical, CGTB e Pública –, anunciaram que pretendem mobilizar os trabalhadores no dia 18 e juntar-se às mobilizações contra o Governo Bolsonaro no dia 19 de junho. Entre as principais bandeiras de luta são: a defesa do auxílio emergencial de R$ 600,00 e da vacina para todos, contra a reforma administrativa (PEC 32/2020) e pelo afastamento do presidente Jair Bolsonaro.
Do golpe de 1964 às think tanks de direita
Foto: AssCom Sinpro-RS
No primeiro painel do Sinpro/RS Debate, ocorrido na segunda-feira, 14, a pesquisadora Larissa Corrêa, da PUC-RJ, especialista em movimentos sociais e mundo do trabalho, e Antônio Lisboa, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apresentaram um panorama do sindicalismo em diversos países e como as organizações sindicais têm dado respostas às demandas dos trabalhadores na contemporaneidade.
Larissa destacou o paralelismo existente nos períodos que precederam o golpe militar de 1964 e o impeachment de Dilma Rousseff. Durante o governo João Goulart, que era considerado uma “república sindicalista” pela CIA. “Na época, houve grande empenho das centrais sindicais norte-americanas e do sindicalismo cristão em tentar direcionar ideologicamente o movimento sindical brasileiro contra a “ameaça comunista”, um medo típico da Guerra Fria, reinventado nos dias de hoje”, afirmou.
Algo parecido teria ocorrido, segundo a professora, nos anos que precederam o impeachment, quando organizações ultraliberais e da extrema-direita norte-americana que financiaram e treinaram quadros e organizações políticas no Brasil, chamadas think tanks, das quais ela destaca o Movimento Brasil Livre (MBL), que tem disseminado um ideário conservador de direita e alinhados com interesses geopolíticos dos EUA.
Outro ponto destacado por Larissa, foi que, no contexto do ultraliberalismo, o trabalhador vive também uma crise de identidade que dificulta sua compreensão de si mesmo e afeta sua organização como classe. “Os termos utilizados pela linguagem corporativa apostam nessa autoimagem ao designar o trabalhador, por exemplo, como colaborador e empreendedor”, diz.
Sindicatos globais e modernização de práticas
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Já Antônio Lisboa destacou a importância articulação dos trabalhadores e dos sindicatos em conquistas importantes como a garantia da renda mínima emergencial durante a pandemia e também a mobilização dos sindicatos ligados à Educação na defesa do Fundeb, pressionando o Congresso Nacional a mantê-lo, em essência, para o que foi criado.
“Na esfera internacional existe um ataque sistemático do sistema financeiro à OIT, que tem a participação de governos, trabalhadores e empresários em articulação constante e troca de informações”, relata. Trata-se de um dos poucos espaços internacionais em que o trabalhador tem voz. Ele também destacou a articulação dos sindicalistas dos países integrantes dos BRICs como uma importante experiência, bem como os sindicatos globais da indústria da madeira que estão discutindo formas de resistir contra a exploração ilegal.
Citando o sindicalista KIjeld Jacobsen, morto em dezembro de 2020, “enquanto a produção capitalista vive globalmente na quarta revolução industrial, o mundo sindical ainda vive e se articula na estrutura da segunda revolução industrial”, provoca Lisboa. Para ele, as razões para a existência dos sindicatos hoje são mais fortes do que quando os sindicatos foram criados, pois a complexidade na estrutura de exploração do trabalhador se sofisticou.