Trabalhadores paralisam em defesa da Corsan pública
Carolina Lima/CUT-RS
Servidores da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) realizaram nesta terça-feira, 10, paralisação contra a privatização da estatal que responde pelo abastecimento de água de 317 dos 497 municípios e possui uma cobertura de 96,57% no saneamento. Foram promovidos atos e caminhadas em diversos municípios.
Foto: Carolina Lima/CUT-RS
Em Porto Alegre, os servidores fizeram uma manifestação em defesa da Corsan pública a partir das 10h, em frente à sede da empresa, na rua Caldas Júnior, no centro da capital, e depois seguiram em caminhada até a Assembleia Legislativa, na Praça da Matriz.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado (Sindiágua/RS) todas as Unidades de Saneamento onde a Corsan atua aderiram à paralisação. A categoria está em luta para que a companhia se mantenha pública. Além disso, os funcionários reivindicam o fim do sucateamento, melhores condições de trabalho e o fim das terceirizações.
O presidente do Sindiágua/RS, Arilson Wünsch, salientou a importância da participação da categoria na luta contra a privatização. “A manifestação é um ato de suma importância, uma ausência no trabalho para defender a manutenção dos empregos de toda uma categoria é melhor do que a perda total dele, tenho certeza que muitos que perderam seus postos para a chegada da inciativa privada, hoje, trocariam dias de trabalho para defender seu emprego. Poderão vir outras oportunidades, fique atento, fique de sobreaviso, pois não vamos terceirizar essa luta, precisamos estar unidos e fortes para combater o desmonte do governo. A Corsan é fundamental para o funcionamento do nosso estado”, alertou.
Segundo o dirigente, a estatal deve ampliar dos atuais 96,57% para 99% a cobertura de saneamento até até 2033 e tem totais condições de cumprir as metas do Marco Legal do Saneamento.
“Com a privatização da Companhia, os municípios pequenos por não serem economicamente viáveis poderão ficar sem atendimento, pois não possuem atrativos para a iniciativa privada”. Após a manifestação, os trabalhadores entregaram aos prefeitos documentos com dados técnicos da Corsan que apresentam os contrapontos da privatização.
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Não à especulação de rentistas
A mobilização contou com o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS). “Estamos ao lado dos companheiros e das companheiras da Corsan que estão alertando a população que a água é um bem público, essencial para a vida e, por isso, é para todos e não pode ser objeto para a especulação por parte dos rentistas que circulam pelo mundo atrás de negócios para aumentar os seus lucros”, destacou o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci.
“Vamos denunciar os deputados estaduais que votarem a favor do projeto de lei enviado em 12 de julho pelo governo Eduardo Leite (PSDB) para a Assembleia Legislativa, que autoriza a privatização da Corsan”, avisou. Para o dirigente, “o governador tucano deveria cumprir a palavra empenhada na campanha eleitoral, quando prometeu não privatizar a Corsan e o Banrisul”.
Direito social
Conforme o presidente do Sindiágua-RS, Arilson Wünsch, a mobilização em defesa da Corsan não provocou desabastecimento de água. “Estamos todos cientes das necessidades da população e não deixaremos que falte água. O momento é delicado, porém não podemos descuidar”, afirmou. “Nossa paralisação tem o intuito de chamar a atenção da comunidade e, juntamente com a categoria, unir esforços e mostrar aos governantes o quanto nossos trabalhadores e trabalhadoras estão engajados nessa luta”, ressaltou.
Privatização
O projeto de lei de privatização da Corsan foi encaminhado pelo governo à Assembleia Legislativa no dia 12 de julho, em regime de urgência com prazo de 30 dias para votação do projeto. O governo alega que a cobertura de esgoto da Corsan é de 17%, o que é contestado por servidores da estatal e pelo Sindiágua/RS) que estimam em 96,57%. A privatização altera a composição social da Corsan e regionaliza os serviços da companhia em 307 municípios.
“O governador Eduardo Leite revisou em 2020 o Código de Ética da Corsan. Uma revisão para tentar calar qualquer funcionário que ouse contestar, por exemplo, os números falaciosos que o governo anuncia na tentativa de privatização. Assim é quando o governo diz que a Corsan tem apenas 17% de cobertura de esgoto. Caso o funcionário demonstre que o número real é 42% pode sofrer consequências”, denuncia Wunsch em artigo publicado no
Foto: Carolina Lima/CUT-RS
site do Sindiágua/RS.
“O governo obriga o funcionário a assinar documento dizendo que está ciente deste “novo” código de ética. Aliás, o funcionário da Corsan está sob constante ameaça pelo governo Leite”, acrescenta.
ESTRATÉGIA – Criada em 1965 e instalada em 1966, a Corsan tem 5.681 servidores e atende 307 dos 497 municípios gaúchos. Uma parceria público-privada (PPP) foi firmada pelo governo em 2019 para ampliar a cobertura de esgoto em nove cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Antes de apresentar o plano de privatização da Corsan, em março, o governador Eduardo Leite (PSDB) mobilizou a sua base na ALRS para a aprovação da PEC/280, de autoria do deputado Sérgio Turra (PP) e mais 24 parlamentares, que revoga os §§ 2º e 5º do art. 22 da Constituição Estadual sobre a exigência de realização de plebiscito prévio à venda de estatais.
Aprovada em dois turnos em abril e junto deste ano, a PEC extinguiu a necessidade de consulta popular para a venda da Corsan e deixou o caminho livre para outras privatizações no estado, como a do Banrisul e da Procergs.
A alegação de que a estatal seria deficitária e exigiria investimentos de mais de R$ 10 bilhões também é contestada pelos servidores. Em 2020, a Corsan obteve receita líquida de R$ 3,2 bilhões e lucro líquido recorrente de R$ 480 milhões.