Atingidos por barragens denunciam aumentos abusivos da tarifa de energia elétrica
Foto: MAB/ Divulgação
O próprio diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, reconheceu recentemente que a bandeira de escassez hídrica, criada pelo governo federal para vigorar entre setembro deste ano e abril de 2022, é uma medida para cobrir um rombo de R$ 13,8 bilhões da agência. A medida elevou a taxa de energia para R$ 14,20 por 100 kWh, acumulando-se aos aumentos de impostos pela bandeira vermelha nos últimos meses. O valor é 49,6% mais alto que a bandeira vermelha de patamar 2 (R$ 9,492) e passou a valer a partir de 1º de setembro. Neste mês, ainda está previsto novo reajuste, de 8%.
Para protestar contra os aumentos abusivos e medidas antipopulares como essa, centenas de pessoas realizaram atos coordenados pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) na última segunda-feira, 27. A jornada de lutas contra os altos preços da energia elétrica do país teve atos nas sedes das distribuidoras de energia de cada estado em capitais como Belo Horizonte, São Paulo, Porto Velho, Porto Alegre e Belém.
Durante as ações, os atingidos ergueram faixas com denúncias como “o preço da luz é um roubo, que tira o sustento do povo”.
“O preço da luz cobrado das residências brasileiras é um verdadeiro roubo. Os novos aumentos autorizados pelo governo Bolsonaro são abusivos e desnecessários e a luta contra essa situação é legítima, porque o povo não pode pagar a conta do caos criado no setor elétrico”, afirmou Gilberto Cervinski, coordenador nacional do MAB.
“Estamos aqui hoje para reivindicar o direito dos trabalhadores, da população brasileira, que vem sofrendo com a conta de luz que está muito alta, que vem sofrendo com o descaso das distribuidoras na questão da tarifa social. Diversas famílias que teriam direito à tarifa social estão pagando R$ 400,00, R$ 500, R$ 600,00 na conta de luz”, desabafou Tamires Cruz, que esteve presente em ato realizado em frente à Enel de São Miguel Paulista, em São Paulo (SP).
A Tarifa Social de Energia (TSE) é um direito das famílias de baixa renda do país (que recebem até meio salário-mínimo por pessoa), mas muitas não conseguem acessar o benefício por conta de entraves burocráticos das distribuidoras de energia. A manifestante também questionou o argumento dos porta vozes do setor elétrico, que atribuem os aumentos tarifários à “crise hídrica” pela qual o país estaria passando.
Apagão
Foto: MAB/ Divulgação
“A gente sabe que a conta de luz não é culpa da natureza. O aumento da conta de luz é culpa do capital e dos investidores, que precisam lucrar em cima da miséria da população. Em plena crise econômica, sanitária e social, isso é um absurdo”, acrescentou Tamires, que é moradora do bairro Itaquera.
O integrante da Coordenação Nacional do MAB, Ubiratã de Souza Dias, explica que o propósito dos atos era justamente expor essa situação de exploração da população, através de sucessivos aumentos que impactam no bolso da população mais vulnerável, que já sofre com a inflação, o aumento do custo de vida e o desemprego durante a pandemia.
“As empresas de energia e o governo federal estão colocando os aumentos na conta de São Pedro, dizendo que o problema é a falta de chuva. Mas nós, aqui do MAB, estamos denunciando que o problema não é só falta de chuva não. O governo federal e as empresas privadas, que tomaram conta do setor elétrico brasileiro, mantiveram intencionalmente o nível dos reservatórios das hidrelétricas baixo para ativar as bandeiras tarifárias mais caras e manter o preço da energia lá em cima. E deixaram a gente, inclusive, com o risco de apagão. Estamos revivendo o que aconteceu no governo FHC, quando ficamos sem luz no início dos anos 2000, por conta de uma gestão irresponsável do setor elétrico”, afirmou o dirigente.
Ubiratã contou que, durante os atos que aconteceram em São Paulo nos bairros São Miguel Paulista Santo Amaro, famílias relataram a dificuldade de quitar contas abusivas e a falta de atendimento da ENEL diante do questionamento de valores abusivos.
Cristiane Silva afirmou que sua última conta veio no valor de R$ 350. “É muito alta. Acho que eles estão roubando muito do povo. E eu estou desempregada”, contou a manifestante. Outra moradora da capital paulista mostrou uma conta no valor de R$ 4,5 mil. “Agora como é que uma mãe solteira, desempregada, que o único recurso que tem é um auxílio emergencial, vai pagar? Eu vivo de doação. O MAB é que nos ajuda como pode”, declarou Palloma Virgílio, moradora do bairro União de Vila Nova.