MOVIMENTO

Em defesa da vida e de direitos, Grito dos Excluídos mostra a cara de um país plural

Movimento tomou as ruas de todo o país neste 7 de setembro, unificando as pautas dos movimentos sociais, com ampla participação popular
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 7 de setembro de 2021

Grito dos Excluídos reuniu pessoas de todas as idades no Vale do Anhagabau, em São Paulo

Foto: Marcelo Menna Barreto

Os 199 anos da independência do Brasil foram marcados por atos antidemocráticos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por todo o Brasil e pela mobilização das centrais sindicais, movimentos sociais e de base por vacina, acesso aos alimentos e ao trabalho, contra o desemprego e pelo impeachment do presidente.

Bandeira do impeachment de Bolsonaro se sobressaiu às diversas pautas do movimento

Foto: Marcelo Menna Barreto

Se de um lado, bolsonaristas se manifestaram em 15 capitais, repetindo ataques ao STF, o 27º Grito dos Excluídos com o tema “Vida em primeiro lugar” defendeu participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, e se estendeu por mais de 100 cidades, incluindo todas as capitais.

A CUT e demais centrais sindicais registraram manifestações em 220 cidades brasileiras. A mobilização liderada pela Igreja Católica em conjunto com os mais variados movimentos sociais ocorreu também em Portugal e na Alemanha.

Sob o viaduto

Em Porto Alegre, devido à forte chuva que castigou a capital gaúcha durante todo o dia, a programação do 27º Grito dos Excluídos sofreu alterações.

Inicialmente previsto para acontecer no Parque da Redenção, o ato de abertura, às 11h, foi transferido para o viaduto da Avenida João Pessoa por decisão das centrais sindicais, frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e Povo na Rua, movimentos populares e pastorais sociais da CNBB, que coordenam o movimento.

Em Porto Alegre, houve concentração, ato ecumênico e almoço solidário sob o viaduto da João Pessoa

Foto: Sinpro/RS

Um almoço solidário foi servido às 12h sob o viaduto – com doação de comida para pessoas em situação de rua que vivem no local.

Às 13h30min, os manifestantes começaram a se concentrar e seguiram em caminhada em direção ao Largo Zumbi dos Palmares. Cruzes foram fixadas no local pelos manifestantes para lembrar os cerca de 600 mil mortos pela pandemia.

Um Drive Thru Solidário arrecadou alimentos não perecíveis para serem distribuídos a famílias em situação de vulnerabilidade.

“Estamos diante de um processo de acumulação de forças que enfrenta essa conjuntura de ataques à democracia e aos direitos dos trabalhadores. O Grito dos Excluídos e a mobilização das centrais foram mais um passo importante de mobilização que mostra a cada dia mais pessoas compreendendo que o que está em jogo é a democracia e o nosso futuro como nação. É um momento desafiador em que a classe trabalhadora precisa se ver como classe e não apenas como categorias”, avalia Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS.

Participação popular

Vale do Anhangabaú: Grito dos Excluídos demonstrou pluralidade em contraste com atos bolsonaristas

Foto: Marcelo Menna Barreto

O Grito dos Excluídos é uma atividade extremamente descentralizada. Acontece praticamente em cada lugar onde que existe uma diocese da Igreja Católica no Brasil. Isso, segundo seus organizadores, até chega a dificultar o mapeamento de todas as ações realizadas com o selo da ação que é promovida há 27 anos. Já os atos pró-Bolsonaro se concentraram no Eixo Monumental em Brasília e na avenida Paulista, em São Paulo.

Se nos atos bolsonaristas se reproduziram o perfil já conhecido dos apoiadores clássicos do presidente, com a predominância de homens, brancos, de meia idade ou mais, o Grito dos Excluídos demonstrou a pluralidade do povo brasileiro.

Eram jovens, idosos, crianças, brancos, negros e indígenas que saíram às ruas para protestar contra o mandatário e em defesa da democracia e de direitos. Em São Paulo, o Vale do Anhangabaú, que já foi palco, entre outras mobilizações históricas, do movimento pelas Diretas Já, ficou totalmente tomado por populares. Apesar da pluralidade de pautas do movimento, as manifestações se voltaram principalmente aos desmandos do presidente em relação à pandemia e pediram o impeachment de Bolsonaro.

Outro contraste se deu pelos cuidados sanitários. Enquanto nos atos bolsonaristas era raro ver pessoas usando máscaras, o Grito dos Excluídos incentivou desde a sua convocação o respeito às medidas sanitárias e de distanciamento.

Discursos

Manifestantes responsabilizaram governo pelo colapso iminente da economia, fome, desemprego e omissão em relação à pandemia

Foto: Marcelo Menna Barreto

Ao contrário dos ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF) que buscam terceirizar a prefeitos, governadores e ministros da Corte o desastre da gestão da crise sanitária, o Grito dos Excluídos buscou responsabilizar Bolsonaro pela crise sanitária e pela derrocada do país em todas as áreas.

Para os manifestantes do Grito dos Excluídos, desde o início da pandemia, Bolsonaro minimizou a situação e buscou soluções mágicas como remédios sem eficácia e queria promover a chamada “imunidade de rebanho”, sem distanciamento social, o que poderia acabar em uma tragédia muito maior do que a dos quase 600 mil mortos até agora pela enfermidade.

Vários oradores do Grito dos Excluídos ainda lembraram que, no meio da “teimosia” do presidente, se montava um grande esquema de corrupção no Ministério da Saúde. Durante a gestão do general e então ministro Eduardo Pazuello, o governo buscou a compra de vacinas através de intermediários suspeitos e conceituadas farmacêuticas como a Pfizer ficaram sem resposta às suas propostas de venda de vacinas.

Agora, além do desleixo do presidente contra a saúde da população, soma-se também o chamado “custo Bolsonaro”.

Nas mais variadas bandeiras levantadas pelo Grito dos Excluídos, Bolsonaro também é responsabilizado pelo colapso iminente da economia e suas consequências, a fome e o desemprego que só aumentam no país.

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