As flores que geram renda e preservam o ambiente
Foto: Equipe PhenoGlad
A combinação entre boas ideias, pesquisa e experimentos práticos outra vez demonstra ser certeira. Idealizado em setembro de 2017, o projeto Flores para Todos já colheu os primeiros resultados em dezembro do mesmo ano em um punhado de pequenas propriedades rurais do Rio Grande do Sul. Era a primeira fase do projeto, e naquela época levava o nome Campanha Flores para Todos.
Diante do sucesso, foi elevado para projeto. Agora, quatro anos depois e com uma pandemia na bagagem, o Flores para Todos alcança a oitava fase exibindo resultados expressivos: 157 famílias de produtores e 23 escolas do campo aderiram em 130 municípios de oito estados do país. E em torno de 112 mil flores foram colhidas e levadas ao mercado.
O projeto surgiu numa reunião entre Emater e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a partir de uma provocação do engenheiro agrônomo Alfredo Schons, da Emater: “por que não incentivamos o agricultor familiar a cultivar flores para diversificar a produção e melhorar sua renda?”. Mais, Schons sugeriu incentivar o plantio de flores nas escolas rurais.
A provocação surtiu efeito. Extensionistas da Emater e professores e acadêmicos de graduação em Agronomia da Universidade, no campus sede em Santa Maria, se uniram para viabilizar a ideia. Hoje, o Flores para Todos é integrado por uma equipe multidisciplinar e multiinstitucional de extensão e pesquisa em floricultura no Brasil, chamada de PhenoGlad.
O projeto é simples, muito por isso está se consolidando. Funciona assim: o produtor familiar recebe gratuitamente as sementes ou bulbos e é acompanhado do plantio até a colheita por extensionistas da Emater e acadêmicos da UFSM e de outras instituições de ensino superior e técnico que coordenam as equipes PhenoGlad em vários estados brasileiros. Entre fins de 2017 e começo de 2020, o acompanhamento era presencial. Com a pandemia, passou a ser virtual.
Nas escolas rurais funciona igual. O objetivo do programa, contudo, difere entre produtor familiar e escolas. Ao produtor, o projeto fornece as ferramentas para diversificar a lavoura, essencialmente hortigranjeira, agregando renda. Nos colégios, o Flores para Todos inocula em estudantes e comunidade o gosto pela floricultura, fazendo com que os alunos levem a ideia para casa. Sobretudo, visa fixar o jovem no campo.
Efeitos sociais e ambientais
Foto: Equipe PhenoGlad
Além da geração de renda, o projeto, ao natural, respinga no social e no ambiental e está minado de entusiastas. Um deles é Nereu Streck, engenheiro agrônomo, professor da UFSM e coordenador da Equipe PhenoGlad em âmbito nacional. Um dos aspectos sociais positivos que Streck aponta é a participação da mulher no projeto.
Essa participação feminina foi detectada em 2019, em municípios gaúchos da Regional Emater de Soledade e de Frederico Westphalen, e logo se generalizou. Hoje, 90% do programa é capitaneado por agricultoras.
“A mulher se apoderou do projeto e guarda o dinheiro que ganha com as flores para ela. Ela passou a ter renda própria. Não é produzir flor para bonito, é para ganhar dinheiro”, destaca Streck.
Ambientalmente, o Flores para Todos está amparado no tripé tolerância a pragas e doenças, baixa adubação e manejo simplificado. Os três aspectos visam reduzir custos, e o planeta agradece: tolerância a pragas e doenças evita ou diminui a quase zero o emprego de agrotóxicos; adubação baixa também resulta em menos custos; e manejo simplificado significa plantio a céu aberto (sem estufas ou coberturas, aproveitando a irrigação da chuva) e emprego de ferramentas já existentes na propriedade.
“Tem que ter garantias para a produção. Plantar flor é difícil, flor é sensível. A meta é que a cultura tem de ir bem em qualquer época do ano e em qualquer sistema de produção”, diz Streck.
As quatro espécies
O projeto começou com gladíolos (palma-de-Santa Rita), e foi ampliado para statice, girassóis e dálias – todas flores de corte, ideais para buquês, arranjos, e até agora irrelevantes na produção gaúcha. No Brasil, flores são, historicamente, cultivadas em São Paulo.
“Nosso objetivo é fazer a ponte entre pesquisa científica e produtor, dar a base para que não seja apenas uma safra, mas para sempre”, afirmou em palestra de setembro, durante o Seminário Nacional PhenoGlad, Lilian Osmari Uhlmann, engenheira agrônoma, professora de Fitotecnia da UFSM e coordenadora da Equipe Phenoglad no campus sede da UFSM.
Mais de 80% das famílias que aderiram ao projeto seguem plantando e vendendo flores.
“É um desafio levar culturas que não têm tradição no Rio Grande do Sul, mas tem funcionado muito bem”, atesta a engenheira agrônoma Monique Chaves, assistente técnica regional na área da floricultura na Emater de Santa Maria.
O projeto não foi interrompido durante a pandemia. Igual outras áreas, houve adaptações, como a adoção de lives e troca de informações pela internet. Com os produtores, a comunicação para ensinar as práticas de manejo é via grupos de mensagens. Também aqui a pandemia alterou comportamentos. Lilian avalia que o brasileiro passou a se interessar mais por flores nos últimos meses, e crê que em 2022 o Flores para Todos seguirá firme, com crescimento.
Schons faleceu em 2019, ainda em tempo de ver consolidada, e em franca expansão, sua provocação de 2017.
O Flores para Todos em números (até a sétima fase, em maio)
157 familias aderiram
130 municípios representados
8 Estados brasileiros de 5 regiões participaram
23 escolas de campo atendidas
Colhidas 90 mil hastes de gladíolos, 20 mil hastes de statices e 2 mil girassóis (dálias foram introduzidas na oitava fase)
Oitava fase, em andamento
Em 5 Estados (Piauí, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul)
Girassol de corte – 19 produtores em 20 municípios e 1 escola rural
Gladíolos – 16 produtores em 16 municípios e 3 escolas rurais
Statice – 7 municípios
Dálias – 6 produtores em 6 municípios, 3 escolas rurais e 1 prefeitura
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