Encontro em Lomba Grande revive o carijo
Foto: Derivajornalismo/ Divulgação
Agricultores de Lomba Grande, região rural de Novo Hamburgo, estão em festa com a proximidade de um encontro que vai reviver um dos rituais mais belos e representativos para uma comunidade que cultua a produção e o consumo sustentáveis.
Trata-se do carijo ou carijada, processo de produção da erva-mate ensinado pelos povos indígenas e assimilado pelos agricultores e moradores locais.
A carijada ocorre nos dias 26 e 27 de março no organismo agrícola de Erno Bühler, em Lomba Grande. O encontro, no formato de oficina, é promovido pelo Araçá – Grupo de Consumo Responsável, com parceria de Agrofloresta Garupá, Produtos Biocêntricos e Circular Alimentos, com apoio da família Bulher e do Banco de Tempo de Lomba Grande. As inscrições podem ser feitas com Camilo, pelo fone (51) 98318.7798.
“A retomada dos carijos proporciona a autonomia de produzir a própria erva para o chimarrão, com sabor original e novos e ancestrais sentidos em nossa vida”, destaca o biólogo Moisés da Luz, multiplicador desta cultura indígena e campesina desde 2005.
Produção sustentável
Foto: Divulgação
O carijo é uma estrutura tradicional utilizada para a secagem da erva-mate durante a sua produção artesanal. Começa com o reconhecimento da planta, a Ilex paraguariensis, que é podada a partir da lua crescente, é colocada para secar ao fogo durante a noite e entra na moagem no dia seguinte.
A seguir, a erva-mate é embalada e dividida entre os participantes para ser degustada em casa. Muitas mãos participam dessa vivência, destacam os organizadores da oficina.
A erva-mate que será processada no carijó é fornecida por Susi Grings, que tem uma árvore desta espécie em sua propriedade em Dois Irmãos, e Mozar Dietrisch, produtor de Santa Maria do Herval, que irá receber integrantes do Araçá para a colheita de sua erva-mate.
Ambos fornecedores receberão parte da erva processada, numa prática de economia solidária, que conta ainda com o empréstimo da máquina de soque do Coletivo Catarse.
Culturas guarani e kaingang
Moisés da Luz, natural de Panambi, na região noroeste do estado, também é educador ambiental e autor da dissertação de mestrado “Carijos e Barbaquás no Rio Grande do Sul: resistência camponesa e conservação ambiental no âmbito da fabricação artesanal de erva-mate”, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Seu trabalho motivou a produção do “Carijo, o filme”, disponível no youtube, além de livro, cartilha e diversos eventos para a multiplicação deste resgate das culturas indígenas mbyá-guarani e kaingang.
O biólogo destaca pelo menos três questões interessantes sobre o carijo. “A fabricação artesanal de forma coletiva valoriza a arte do fazer junto, a importância de aprender esse processo de um alimento, uma bebida, de forma coletiva, além de gerar conhecimento sobre a origem da erva-mate, manejo agroflorestal, flora nativa e importância de preservar a biodiversidade”, salienta.