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Mais de 1,2 milhão de mulheres negras perderam o emprego na pandemia

Entre as mulheres, as trabalhadoras negras foram demitidas em maior número durante a crise sanitária e não conseguiram nova colocação. O número de desempregadas negras saltou de 4,4 para 7,3 milhões
Por Flavio Ilha / Publicado em 8 de março de 2022
A força de trabalho feminina caiu de 47,5 milhões em 2019 para 46,4 milhões em 2021, com repectivamente 6,8 milhões e 7,4 milhões de mulheres deocupadas em 2019 e 2021. O número de desempregadas negras deu um salto: passou de 4,4 milhões em 2019 para 7,3 milhões em 2021

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A força de trabalho feminina caiu de 47,5 milhões em 2019 para 46,4 milhões em 2021, com respectivamente 6,8 milhões e 7,4 milhões de mulheres deocupadas em 2019 e 2021. O número de desempregadas negras deu um salto: passou de 4,4 milhões em 2019 para 7,3 milhões em 2021

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Tomando como base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do IBGE, o Dieese revelou nesta terça-feira, 8, que as mulheres trabalhadoras negras foram as mais prejudicadas pela pandemia no mercado de trabalho brasileiro.

Segundo o boletim especial 8 de Março – Mulheres no mercado de trabalho brasileiro, as trabalhadoras negras representavam 83% das mulheres que deixaram o contingente feminino total no terceiro trimestre de 2021 em comparação com 2019, antes do início da pandemia de coronavírus. A redução entre as negras foi de 925 mil mulheres no período.

A força de trabalho feminina caiu de 47,5 milhões em 2019 para 46,4 milhões em 2021, com respectivamente 6,8 milhões e 7,4 milhões de mulheres desocupadas em 2019 e 2021. O número de desempregadas negras deu um salto: passou de 4,4 milhões em 2019 para 7,3 milhões em 2021.

O resultado, segundo a economista Patrícia Pelatieri, diretora-técnica adjunta do Dieese, indica que população negra feminina e trabalhadora foi quem mais pagou pela crise sanitária do país, agravada pelo atraso na vacinação e pelas medidas dúbias de controle do vírus.

“A pesquisa revela que a desigualdade brasileira tem gênero e cor. São as mulheres, e entre elas especialmete as mulheres negras, que sofrem os maiores efeitos da crise sanitária do coronavírus”, disse a pesquisadora.

Análise específica sobre as mulheres ocupadas revela que, em 2021, havia 1,6 milhão de mulheres a menos trabalhando no país, das quais 1,2 milhão negras e 466 mil não negras – trabalhadoras que perderam a ocupação na pandemia e não conseguiram nova colocação.

Por outro lado, o contingente feminino de desocupadas, ou que buscou colocação no mercado de trabalho em 2021, aumentou em relação a 2019: 564 mil mulheres a mais procuraram uma vaga, das quais 285 mil eram negras e 277 mil, não negras.

Nos trimestres analisados, a taxa de desocupação feminina aumentou entre 2019 e 2021, de 14,3% para 15,9%. Além disso, dimuinuiu o contingente de participação de mulheres ocupadas entre o estoque de mão de obra feminina (acima de 14 anos): de 54,6% em 2019 para 52,25% em 2021.

As trabalhadoras negras não pagaram a conta pela crise sanitária apenas perdendo suas vagas no mercado de trabalho. O mesmo levantamento aponta que as elas perderam renda, ocupando o nível mais baixo da pirâmide salarial do país. O estudo revelou que em 2021 as mulheres negras receberam em média apenas 55% da hora trabalhada de um homem branco.

A desigualdade salarial é uniforme em todas as regiões do país, mas o maior índice está em São Paulo: enquanto as mulheres negras ganham em média R$ 11,25 por hora trabalhada, os homens brancos recebem R$ 22,99 pelo mesmo período.

“A desigualdade é pré-pandemia, mas o coronavírus agravou a situação ao atingir com mais força as atividades onde a presença feminina é marcante, como o comércio e o trabalho doméstico. São as ocupações mais fragilizadas, que devem demorar ainda mais tempo para recuperarem níveis aceitáveis”, afirmou Pelatieri.

De uma forma geral, segundo a pesquisadora, a pesquisa aponta que todo o mercado de trabalho brasileiro passa por uma situação dramática: aumento do desemprego, da informalidade, do trabalho precário, da subutilização da mão de obra e redução dos rendimentos de trabalhadores e trabalhadoras.

“Durante os dois anos da pandemia de Covid-19, o governo brasileiro, além de se omitir no combate à doença, o que potencializou e intensificou os impactos negativos da crise sanitária, tem se empenhado sistematicamente no desmonte das instituições democráticas, no corte de direitos sociais e trabalhistas e na adoção de políticas que resultaram na ampliação da pobreza e no aprofundamento das desigualdades sociais características da sociedade brasileira”, completou.

Segundo o relatório 8 de Março – Mulheres no mercado de trabalho brasileiro, as únicas ocupações femininas que cresceram entre o terceiro trimestre de 2019 e o de 2021 foram as das trabalhadoras por conta própria (chamadas de “empreendedoras”: 9,4% para as não negras e 2,9% para as negras. Já o percentual de negras com CNPJ aumentou 36,4% enquanto que o de não negras, 27,8%.

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