Ônibus elétricos como alternativa para trabalhadores

Foto: Marco Polo /Divulgação

Os ônibus de matriz energética limpa – elétricos ou híbridos – deverão corresponder à metade da frota nacional num prazo entre cinco e dez anos

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A Central Única dos Trabalhadores (CUT) decidiu priorizar entre suas pautas estratégicas para 2022 o debate sobre mobilidade urbana no Brasil. A constatação é de que a pandemia, além de empobrecer ainda mais a classe trabalhadora, elevou preços de tarifas e reduziu subsídios. O resultado é que os brasileiros já gastam mais em transporte do que em comida.

Os dados são do IBGE e indicam que a população utiliza em média 18% do orçamento doméstico mensal com deslocamentos e 17,5% com alimentação. O quadro se agravou na pandemia, com inflação em alta e retirada de subsídios. Cerca de 80% do transporte urbano do país ainda utiliza a matriz rodoviária, que sente diretamente os impactos do aumento do petróleo.

No Brasil circulam cerca de 380 mil ônibus, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Na semana passada, a Petrobrás anunciou mais um aumento dos combustíveis no país. O diesel, que alimenta a frota rodoviária de passageiros e de carga no Brasil, subiu 24,9%. A gasolina teve reajuste de 18,8%, enquanto o gás de cozinha ficou 16% mais caro. “Temos de ampliar esse dabate, exigir soluções e fazer propostas”, disse o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre.

Uma das alternativas, segundo Nobre, é incentivar a produção de unidades 100% elétricas de transporte de massa com fabricação nacional – os chamados veículos leves sobre pneus (VLP). Além de zerar os impactos ambientais com a queima de combustíveis fósseis, o aumento da frota elétrica pode gerar empregos na indústria brasileira. Segundo a ANTT, o mercado de transporte urbano movimenta entre 10 mil e 15 mil novas unidades ao ano.

CUT visitou planta da Marco Polo

Uma comitiva da CUT visitou na semana passada a planta de produção da Marcopolo, na serra gaúcha. A empresa já fornece veículos elétricos de forma experimental para várias prefeituras do país. Segundo Rodrigo Pikussa, diretor da Marcopolo, os ônibus de matriz energética limpa – elétricos ou híbridos – deverão corresponder à metade da frota nacional num prazo entre cinco e dez anos.

“O VLP 100% elétrico tem taxa zero de emissão e uma necessidade de manutenção muito mais barata que as unidades de combustíveis fósseis. Mas ainda é caro, embora muito mais confortável: não há escadas, as portas são largas, o ar-condicionado é esterilizado e a visão do motorista é computadorizada, sem a necessidade de espelhos retrovisores”, informou Pikussa.

A prefeitura de São José dos Campos, interior de São Paulo, usa em formato de teste 12 unidades de veículos leves elétricos sobre roda A Marcopolo participa do projeto junto com a chinesa BYD. Há veículos similares rodando também em Bauru, Campinas e São Paulo, além de Belém (PA), Brasília (DF), Fortaleza (CE), Maringá (PR) e Volta Redonda (RJ).

Foto: CUT-RS/Divulgação

Comitiva da CUT visitou a planta de produção da Marcopolo, na serra gaúcha

Foto: CUT-RS/Divulgação

A fábrica também está finalizando os testes de um modelo mais barato, com chassi próprio da companhia e que deverá ser utilizado nas metrópoles brasileiras a partir do último trimestre de 2022. A versão que circula no interior paulista desde outubro do ano passado tem capacidade máxima de 89 passageiros (sentados e em pé), autonomia de 250 quilômetros e tempo de recarga de até quatro horas.

Na visita da comitiva da CUT à Marcopolo, o CEO da empresa, James Bellini, afirmou que a adoção de veículos com tecnologia limpa é uma tendência mundial. “Há alguns anos, estamos envolvidos em diferentes projetos de veículos movidos a combustíveis de fontes renováveis”, disse. Além do benefício ambiental, Bellini destacou que a mobilidade elétrica tem custo operacional muito inferior se comparado ao diesel.

Transporte subsidiado nas maiores cidades do mundo

“As cidades terão de se reinventar. A crise no transporte público do Brasil é fruto de um modelo errado, que precisará ser revisto. Nas maiores cidades do mundo, o transporte público é financiado totalmente pelos governos ou pelo menos fortemente subsidiado”, adverte o diretor da Marcopolo Rodrigo Pikussa.

No encontro, foram debatidas forma de financiar a expansão da frota elétrica no país. Uma das possibilidades é que as próprias companhias energéticas subsidiem essa ampliação, já que a maior parte dos veículos será recarregada à noite – no período mais ocioso das redes de energia. Em Santiago, capital do Chile, segundo a Marcopolo, a frota de elétricos já chega a quase 500 unidades.

O presidente da CUT estadual, Amarildo Pedro Cenci, disse que outra alternativa para alterar a matriz de mobilidade urbana no país é subsidiar os consumidores, e não as empresas. “Em vez de dar dinheiro para as transportadoras urbanas, defendemos a ampliação dos subsídios para os usuários como forma de garantir rentabilidade ao setor”, disse. Segundo dados da CUT, menos de 20% dos usuários no país recebem algum tipo de subsídio para se locomoverem.