Jovens indígenas criam rede de comunicação
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Mais de 20 jovens indígenas estiveram reunidos na Aldeia Pirá Rupá, em Palhoça (SC) no 1º Encontro de Jovens Comunicadoras(res) Indígenas da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul). O evento foi considerado um momento histórico para o movimento indígena da região Sul do país.
Durante cinco dias, jovens indígenas dos povos Avá-Guarani, Guarani Mbya, Guarani Nhandeva, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng participaram de um processo de imersão e formação continuada e de intercâmbio de saberes tradicionais e técnicos. Com o tema “A comunicação indígena que temos e a comunicação indígena que queremos ter”, o encontro finalizou com a criação de uma rede de comunicadoras e comunicadores indígenas da Arpinsul.
“A realização do encontro foi um momento importante e necessário para a comunicação indígena no âmbito da região Sul, pois foi a primeira vez que algo do tipo foi realizado. E o surgimento da rede, além de histórico, será uma ferramenta de empoderamento das jovens e dos jovens parentes”, afirma o coordenador de comunicação da Arpinsul, Yago Kaingang.
Yago ressalta ainda que a criação da rede é uma forma de contribuir para o fortalecimento da organização indígena “através do nosso próprio protagonismo e, a partir daí, levarmos nossas narrativas ao Brasil, ao mundo e ao universo. Da aldeia para o mundo!”.
Por intermédio da rede, a juventude poderá atuar diretamente em seus territórios e em suas organizações de base e ecoar suas vozes também para fora desses espaços, narrando suas próprias histórias e lutas. “A importância da criação dessa rede tem justamente como objetivo levar essas demandas e outras questões das pautas indígenas e fortalecer nossas lideranças da região Sul que, por muito, foram invisibilizadas a nível nacional”, reitera Laércio Karai, do povo Guarani Mbya.
Formação
O encontro iniciou suas atividades com um momento de apresentação de todas e todos e acolhida do cacique da aldeia Pirá Rupá, Karai Jekupe, e do coordenador da Arpinsul, Marciano Rodrigues, que exaltaram a importante articulação da juventude indígena.
Durante o evento, as jovens e os jovens indígenas participaram de diferentes oficinas e rodas de conversa, todas mediadas por pessoas indígenas que já atuam com comunicação em seus territórios ou coletivos.
Com as assessorias de Ingrid Sateré Mawé e Cris Tupan, os jovens indígenas participaram das oficinas “Criação de conteúdo e gestão de redes sociais” e “Fotografia e uso de tecnologias”, respectivamente. Ingrid falou sobre a importância de aprender e usar as plataformas digitais e como funcionam, as possibilidades e desafios de conexão com as redes sociais e a construção de uma comunidade digital. Já Cris tratou sobre os olhares e narrativas a partir da fotografia e, em um momento prático, as jovens e os jovens tiraram diversas fotografias buscando diferentes luzes, pontos de vistas e perspectivas.
Na oficina “Introdução à transmissão em redes sociais”, com a assessoria de Yago Kaingang, foram apresentados os tipos de transmissão, equipamentos, recursos básicos e os programas usados para transmitir. Também a fim de praticar o que havia sido aprendido, todas e todos fizeram suas próprias transmissões em grupo.
Comunicação como ferramenta de luta da juventude
Além da formação técnica em comunicação, a juventude indígena que participou do encontro debateu sobre importantes temáticas da comunicação e da causa indígena. A roda de conversa “Comunicação e Política”, com mediação de Marciano, discutiu o papel da comunicação nas lutas do movimento indígena diante da atual conjuntura de ataque aos povos indígenas, e a importância de ressignificar a comunicação pela resistência e coletividade. Com a mediação de Cris Tupan, as jovens e os jovens trataram sobre “Comunicação para diversidades e pelas lutas sociais” e conheceram uma vasta literatura sobre o movimento indígena.
“Foi um momento em que nós, jovens, sentamos e falamos sobre nossas crenças, tradição e também sobre as dificuldades que encontramos em nosso território tradicional. O encontro nos proporcionou várias dinâmicas das quais podemos levar para nossa vida e luta diária […] e espero que esse seja o primeiro de muitos que virão, para que todos saibam que o sul também é território indígena”, afirma Jaciara Priprá, do povo Laklãnõ-Xokleng.
Organizações e coletivos articulados por jovens indígenas
Participaram do encontro jovens convidadas e convidados da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e dos coletivos Ga Jāre – Mulheres Indígenas Kaingang/Guarani do estado do Paraná, Juventude Laklãnõ Xokleng e Mídia Nativa On.
Também estiveram presentes a coordenadora da CGY, Juliana Kerexu, e uma das coordenadoras executivas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Eunice Kerexu, além das assessorias do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organizações apoiadoras do evento.