Rua onde ficava o Dops ganha nome de presos políticos da Ditadura Militar
Foto: Coletivo Juntos/Divulgação
Na noite de quinta para sexta-feira, 31 de março, a Rua Santo Antônio, no bairro Floresta em Porto Alegre, recebeu nomes de presos políticos do período da Ditadura Militar (1964-1985). As placas de esquina foram adesivadas com nomes de vítimas do regime militar.
A iniciativa foi do Coletivo Juntos!, para relembrar que ali, no atual Dopinho (antigo DOPS), ocorreram diversas prisões e torturas de pessoas que lutaram contra o regime ditatorial e pela democracia.
A data escolhida, 31 de março, faz referência aos 59 anos do início da Ditadura Militar brasileira. Mesmo com 38 anos do período de redemocratização, o Brasil nunca passou pela justiça de transição completa. Ditadores torturadores não foram julgados ou punidos pelos crimes contra a humanidade, mesmo tendo sido reconhecido que o período foram de grandes ataques aos direitos humanos.
“Essa ação foi um ato simbólico num local que ficou marcado por prisões, torturas e arbitrariedades para relembrar os mortos e torturados da Ditadura Militar. Ali nas placas há informações e um breve histórico sobre ativistas que sofreram violência daquele período. Eles lutaram pela democracia, pelos direitos sociais, movimento estudantil e foram duramente reprimidos. O ato é para que se reavive a memória sobre os crimes da ditadura e nunca mais aconteçam. Quando falamos de de direitos humanos e democracia, é preciso lembrar deste momento muito duro e triste. Dias como hoje em que muitos defendem que a ditadura se repita torna ainda mais urgente o reavivamento dessa memória para que nunca mais exista criminalização e repressão de lutas por direitos humanos, por uma sociedade mais justa”, contextualiza Ana Paula Santos, coordenadora do Coletivo Juntos! .
Entre os nomes escolhidos para “rebatizar” a Rua Santo Antônio, estão Ary Abreu Lima da Rosa, preso em 1969, logo após o Ato Institucional n. 5, que acirrou o período de torturas e prisões políticas. Ary foi preso panfletando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com material crítico à ditadura, pela legalidade do movimento estudantil. Morreu em 1970 e o governo ditatorial alegou suicídio. Após a redemocratização, o governo brasileiro reconheceu que Ary foi morto por ação perpetrada pela Ditadura militar, em um período de ataques aos direitos humanos.
Ignez Maria Serpa, atualmente médica veterinária da Prefeitura de Porto Alegre, foi presa em 1970. No DOPS, foi usada de cobaia de Paulo Malhães, uma grande figura da Ditadura Militar.
Além de Ignez, Nilce Azevedo Cardoso, foi presa em Porto Alegre em 1972. Levada ao DOPS, foi brutalmente torturada ao ponto de ficar 10 dias em coma. Denunciou o caráter sexista das torturas do governo. Nilce faleceu sem ver seus torturadores condenados.
Finalizando a ação, o Coletivo Juntos! rebatizou algumas placas da rua com nome de Diógenes Carvalho de Oliveira, histórico militante pela democracia. Diógenes, apesar de gaúcho, foi preso em São Paulo. Mesmo brutalmente torturado, nunca entregou nenhum de seus companheiros. Diógenes morreu em 2022.
Com a ação, o Coletivo Juntos! pretende reforçar a luta por justiça de transição, e contra a anistia. A falta desse tipo de política faz com que o estudo sobre o período seja precário e a punição com defensores da ditadura basicamente não exista. Um exemplo dessa política são os atos antidemocráticos do último 8 de janeiro, no qual aconteceram pedidos do retorno da Ditadura Militar e exaltação de figuras ditatoriais. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!