Motoristas de aplicativos fazem paralisação em várias regiões do país
Foto: Matheus Piccini/CUT-RS
Mesmo parcial, a paralisação dos motoristas de transporte de passageiros por aplicativos desta segunda-feira, 15, trouxe à tona que um serviço que promete ser ágil e de valores menores que uma bandeirada de táxi convencional pode acabar sendo prejudicado pela própria lógica que usa, o da oferta e da demanda.
Em várias localidades do Brasil, passageiros foram surpreendidos com o aumento do tempo de espera, cancelamentos de pedidos em série e aumentos que chegaram a 50% nas tarifas praticadas por empresas como Uber e 99.
Uma das principais queixas dos motoristas acabou repercutindo fortemente, valores de repasse que estão congelados desde 2016 pelas plataformas.
Se em 2016, em uma corrida no valor de R$ 10 para o passageiro, o motorista ficava com R$ 7,50, hoje, a mesma corrida rende perto de R$ 7 para o trabalhador, com os aplicativos recebendo cerca de R$ 14.
Leandro da Cruz Medeiros, presidente do Sindicato dos trabalhadores com aplicativo do estado de São Paulo (Stattesp), diz entender os motivos de motoristas que não aderiram ao movimento ao mesmo tempo que comemora a repercussão.
Paralisação parcial dos motoristas
Foto: Matheus Piccini/CUT-RS
“A paralisação foi para que todos os motoristas do país não trabalhassem, mas nós entendemos quem foi trabalhar porque muita gente está com carro alugado e um dia sem trabalhar pode prejudicar muito”, observa Leandro, que trabalha no maior mercado das plataformas no Brasil.
“Além, claro, de outros motivos financeiros de trabalhadores endividados. Mas a nível nacional está muito boa para mostrar a insatisfação dos trabalhadores”, reforçou.
De Salvador (BA), Jaisson Paiva, membro da Cooperativa Mista de Motoristas por Aplicativo (Coopmap), faz questão de reafirmar que o valor pago pelas plataformas não acompanhou a inflação.
“Hoje a tarifa mínima de viagem é de R$ 6,50 e só recebemos R$ 1 por quilômetro. Os valores já foram atualizados para o cliente e não são repassados para nós”, reclama.
Segundo ele, além da pauta principal ser o reajuste do repasse das corridas, a categoria também quer melhorias na proteção contra assaltos e violência nas áreas urbanas e avanços em uma regulação federal.
“Estima-se que na Bahia existam 30 mil motoristas ativos, mas nem isso dá para saber, pois não existe uma regulamentação federal para proteger nossos direitos e saber a quantidade certa de trabalhadores”, completa.
Em Belo Horizonte, motoristas realizaram um “churrascão” na praça do Papa para cobrar melhores condições de trabalho.
“Já que vamos paralisar, é importante que a gente tenha pelo menos um dia de lazer. Essa também é uma forma de protesto”, informou Veron Guilherme, um dos organizadores do evento.
Na ocasião, os motoristas que atuam nos aplicativos ainda tiveram à disposição cortes de cabelo, medição da pressão arterial e descontos para lavagem de bancos e compra de baterias.
No Rio Grande do Sul, protesto iniciou às 4h
Foto: Matheus Piccini/CUT-RS
Concentrados no estacionamento em frente ao Asilo Padre Cacique, na Avenida Borges de Medeiros, desde as 4h da manhã desta quinta-feira, 15, os trabalhadores e as trabalhadoras saíram às 9 horas da manhã em buzinaço pelas ruas da capital gaúcha para chamar a atenção da sociedade e pressionar as plataformas.
Depois de percorrem parte da Avenida Padre Cacique, os motoristas pararam, em frente à casa da 99 POP. Em seguida, os manifestantes foram até o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), onde foram recebidos pelo vice-presidente, Ricardo Martins Costa, que se mostrou solidário com a pauta.
O desembargador recebeu o manifesto direto das mãos dos motoristas.
O protesto no Rio Grande do Sul foi organizado pelo Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS), União Gaúcha de Motoristas Autônomos (Ugama) e Associação de Motoristas de Aplicativos (Alma).
A presidente do Simtrapli-RS, Carina Trindade, comemorou o fato de que a manifestação de hoje foi em âmbito nacional, o que, segundo ela, mostra o fortalecimento da organização da categoria, e defendeu o reajuste urgente das tarifas.
“Hoje nós temos uma tarifa defasada, chega a ser R$ 0,95 por quilometro rodado. Não temos como continuar trabalhando dessa forma”, explicou.
Nota das plataformas sobre manifestação dos motoristas
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa as principais plataformas de serviços de transporte de passageiros e entregas por aplicativos, disse em nota que “respeita o direito de manifestação e informa que as empresas associadas mantêm abertos seus canais de comunicação com os motoristas parceiros, reafirmando a disposição para o diálogo contínuo, de forma a aprimorar a experiência de todos nas plataformas”.
A 99 também informou por nota que tem conversado com os motoristas do aplicativo e que desenvolveu programas de apoio à categoria.
“Ouvindo e conversando com cerca de 2 mil motoristas todos os meses, a 99 adotou soluções permanentes para incrementar os ganhos no App: foi a primeira plataforma a oferecer a taxa garantida, que assegura aos condutores a taxa máxima semanal de até 19,99%”.
A Uber não se manifestou.