14º Congresso comemora os 40 anos da CUT e define políticas para os próximos anos
Foto: Roberto Parizotti/CUT
Foto: Roberto Parizotti/CUT
Começou nesta nesta quinta-feira, 19, o 14º Congresso Nacional da CUT (Concut), em São Paulo. O encontro reúne mais de 2 mil delegados e delegadas de todo o país sob o tema Luta, Direito e Democracia que transformam vidas e celebra os 40 anos da CUT, completados em 28 de agosto de 2023. Além dos delegados eleitos de todos os estados e setores, participam lideranças nacionais, internacionais e observadores.
Foram temas do primeiro dia as táticas e as estratégias da extrema direita em nível global e uma resposta da classe trabalhadora à sua ascensão. Na abertura do Congresso, o presidente da CUT, Sérgio Nobre, fez um resgate da história recente do Brasil para contextualizar como a extrema direita atua e quais as consequências para a democracia.
O dirigente falou sobre a luta do campo progressista para trazer de volta ao poder um governo voltado à classe trabalhadora, com sua representação máxima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Essa vitória não teria sido possível se o candidato não fosse o Lula”, salientou Sérgio Nobre (foto).
Primeira mesa do congresso
Os participantes do primeiro debate do seminário, coordenado por Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT, apontaram os principais aspectos que se referem à extrema direita e como essa ideologia ‘arrebanha’ as pessoas. Christoph Heuser, da Fundação Fredrich Ebert afirmou que uma das táticas foi enfraquecer os movimentos populares.
“Sentimos fortemente os ataques a essas organizações, responsáveis pelo tecido social, pela resistência e pela luta”, disse Heuser. Ele destacou a importância em se discutir o tema no seminário por “estarmos em processo de reconstrução”.
Como resposta, disse, é preciso colocar os trabalhadores no centro do debate do combate ao extremismo, e esse é um desafio do movimento sindical, não só no Brasil, mas do mundo. “É preciso dar uma resposta ao ódio”, pontuou Heuser.
Representando o Ministério dos Direitos Humanos do governo brasileiro no congresso, a antropóloga e pesquisadora Letícia Cesarino, trouxe um “raio-x” da atuação da extrema direita, sugerindo estratégias de combate.
“Embora dispute eleições, é uma força política que ocupa cada vez mais os espaços. É uma força ‘metapolítica’ porque se coloca como alternativa à democracia”, diz Letícia. Metapolítica é uma disciplina filosófica que tenta estabelecer os fundamentos últimos da política e, em consequência, as funções nas quais a política deve atuar.
“É preciso entender o apelo do discurso junto a segmentos sociais populares que até pouco tempo atrás eram mais progressistas”, citando como exemplo que até mesmo os slogans usados pela extrema direita são alienadores. Como os famosos “direitos humanos para humanos direitos” e “bandido bom é bandido morto”.
Para ela, há que se modificar o método pedagógico de diálogo, trabalhar o bom senso das pessoas, com perspectivas de transformação. “Novas formas de atuar, novos atores que estão no radar dos direitos humanos e do movimento sindical. Temos que correr atrás disso”, disse Letícia se referindo às formas de comunicação que podem ser usadas.
Oposição ao fascismo em debate no congresso
O presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), Luc Triangle –reforçou que a agenda do movimento sindical internacional é oposta à agenda da extrema direita. “Eles dividem as pessoas, usam os pobres e os mais vulneráveis e tentam fazer que pareçam inimigos da sociedade (…) são nacionalistas, populistas e extremistas”, disse.
Além de citar veículos de comunicação controlados pela extrema direita como o Twitter e Fox, nos Estados Unidos, e a necessidade de combatê-los, Luc falou sobre o vínculo entre a ascensão do fascismo com os interesses de grandes corporações. Em suma, quanto mais enfraquecida fica a democracia, maior o controle sobre os trabalhadores e o ataque aos direitos.
Cristina Faciaben (CCOO Espanha), disse que é preciso construir uma estratégia de combate a partir do mundo do trabalho.
“A democracia e a classe trabalhadora estão em perigo. A ultra direita não só quer derrotar a democracia, quer esvaziar as instituições e acabar com os serviços públicos e, assim eliminar direitos “.
A mesa contou ainda com Eulogia Familia, (CNUS), da República Dominicana, que comentou o debate.
Segunda mesa
O segundo debate, coordenado por Quintino Severo, secretário adjunto da Secretaria de Relações Internacionais da CUT, trouxe experiências sobre a organização dos trabalhadores como ferramenta de fortalecimento da democracia.
A cientista política e pesquisadora sobre a extrema direita há 10 anos, Camila Rocha ,disse que é preciso em primeiro lugar entender que, na verdade, estamos vivenciando hoje uma crise da ordem política neoliberal, apesar do neoliberalismo continuar dominante na economia, mas do ponto de vista político esse sistema está vivenciando uma crise e que a extrema direita se aproveita disso.
“O ponto é que a direita e extrema direita, inclusive, elas não são contra o neoliberalismo, simplesmente. Elas são contra o que a gente chama neoliberalismo progressista. O que é isso? É, basicamente, como o neoliberalismo buscou se legitimar na sociedade civil, se tornando parceiro de correntes liberais e movimentos sociais, como o movimento feminista LGBTQIA+, racista, ambientalista, que então eram considerados opositores da liberalismo”.
Mas, segundo Camila, a crescente informalidade tirou dos trabalhadores o sentido de pertencimento e o trabalho já não faz tanto sentido para eles, resultando numa crise de significado em suas vidas, tanto que uma pesquisa mostrou que 75% dos jovens brasileiros sonham em se tornar influencers.
“Os vínculos sociais ligados ao trabalho e à cidadania, compensavam a vulnerabilidade social e econômica dessas pessoas, que antes dependiam de familiares e da vizinhança”, afirmou. Para ela, a falta desses vínculos, de certa forma, torna a extrema direita atrativa para parte da população.
A mesa também foi composta por Veronica Nisson (TUAC), Paola Granda (CAT Peru), Jesus Gallego (UGT Espanha) e a representante da AFLCIO, dos Estados Unidos, Shawna Michele Bader-Blau, que comentou que a organização de trabalhadores de plataformas é uma forma de fortalecer o movimento sindical para combater os ataques aos direitos e, consequentemente a extrema direita.
Metade dos trabalhadores não tem proteção
Por ocasião dos 40 anos da CUT, o presidente da Central, Sérgio Nobre, lembrou metade da classe trabalhadora não tem proteção trabalhista. “São microempreendedores, são autônomos que trabalham por aplicativo e que não têm direito nenhum e estão fora da proteção social”, explica.
Entre as prioridades da CUT este ano, estão duas mesas de negociações abertas com o governo federal, sendo uma para “atualizar o modelo sindical e fortalecer a negociação coletiva” e a outra para “encontrar uma proteção para os trabalhadores de aplicativo”.
No Congresso serão debatidos os temas que devem nortear a organização de trabalhadores nos próximos anos. É também no Concut que são aprovadas as resoluções políticas, organizativas e sindicais que orientam as ações da Central e suas entidades filiadas entre um evento e outro, e também quando é eleita a direção e a executiva nacional.
Maior central do país
A CUT é a maior central sindical do Brasil e quinta maior do mundo, com 3,9 mil sindicatos filiados e 7,9 milhões de trabalhadores em sua base.
“O processo do Congresso e o debate interno fortalecerão a Central nos desafios que temos pela frente para garantir à classe trabalhadora vez e voz na construção de uma sociedade mais justa, que supere as desigualdades sociais, com geração de empregos de qualidade e ampliação dos direitos”, destacou o presidente Sérgio Nobre.
“Ao realizar o 14° Concut, no ano em que a nossa Central celebra 40 anos de lutas e conquistas, reafirmamos o compromisso de continuar lutando na defesa intransigente dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora”, conclui o sindicalista.
Confira aqui a programação do 14º Concut.