Assassinato brutal de jovem lésbica gera movimento nacional contra violência de gênero
Foto: Igor Sperotto
Em Porto Alegre, a manifestação aconteceu na tarde desta quinta-feira, 21, na Praça da Alfândega, centro da cidade, com a participação de dezenas de manifestantes e contou com a presença da deputada federal Daiana Santos (PCdoB/RS).
A mobilização nacional foi motivada após um caso de lesbocídio, ocorrido no último dia 10, no interior do Maranhão. A vítima Ana Caroline Sousa Campêlo, de 21 anos, foi encontrada morta no Bairro Novo, localizado na cidade Maranhãozinho, a 232 km de São Luiz.
Segundo a Polícia Militar, o corpo de Ana foi encontrado mutilado, tendo seus olhos, orelhas, couro cabeludo e pele do rosto arrancados, indicando que tenha sido torturada antes de morrer.
Ela trabalhava em uma loja de conveniência de um posto de combustível e foi abordada logo após o final do seu expediente. O celular e a bicicleta da jovem foram encontrados perto de onde ela morava. O tio da jovem acionou a polícia após a vítima desaparecer na volta do trabalho.
A Polícia Militar diz que uma vizinha relatou ter ouvido uma mulher chorando perto de um rapaz com uma motocicleta. A testemunha contou que tentou iluminar com uma lanterna para entender o que estava acontecendo, mas que ao ver a movimentação, o rapaz colocou a moça na garupa e fugiu do local.
De acordo com a Polícia Civil do Maranhão, o caso está sendo investigado pela Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI). Testemunhas e familiares estão prestando depoimento para ajudar a localizar os suspeitos do crime.
Ana Caroline era da cidade Centro do Guilherme e tinha se mudado para Maranhãozinho há poucos meses para morar com a namorada. A jovem tinha um sonho de entrar para o Corpo de Bombeiros.
Manifestações estão sendo feitas em todo o Brasil pedindo justiça pela jovem. No X (antigo Twitter), a #JustiçaporCarol ficou em alta nos últimos dias com publicações dos usuários da rede repudiando o crime e prestando apoio aos familiares, amigos e a namorada de Ana Caroline.
A violência contra as lésbicas no Brasil
Segundo o Dossiê sobre lesbocídio no Brasil, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), houve um crescimento de 237% entre 2014 e 2017.
Lançado em março de 2018, o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil traz dados e análises sobre casos de assassinato e suicídio que aconteceram nesse período. Os dados foram coletados retroativamente em 2017 a partir do “monitoramento de redes sociais, sites, jornais eletrônicos e outros meios de comunicação que fossem expressões de notícias criminais nacionais, regionais e locais, buscando a identificação dos casos de lésbicas assassinadas ou suicidadas”.
Porém, o documento ressalta que os números de casos noticiados de assassinatos de lésbicas ainda estão distantes da realidade, o que revela a insuficiência de dados oficiais e de políticas públicas para reconhecer e prevenir a lesbofobia.
As informações do Dossiê são as mais recentes no país. A falta de dados sobre a violência sofrida por mulheres lésbicas é algo que afeta os coletivos e grupos que lutam por essa causa.
“A própria falta de dados sobre isso no Brasil já é um dado”, ironiza Teresa Cristina Bruel, psicóloga clínica, coordenadora do Coletivo Feminino Plural, conselheira estadual dos direitos humanos e integrante da Rede LesBi Brasil.
“Vivemos no Brasil de maneira geral uma manifestação de ódio às mulheres que não correspondem a norma da cisgeneridade. Ou seja, as mulheres que não se submetem aos padrões da heterossexualidade são vistas como perigosas, são ameaça ao sistema”.
A coordenadora comentou também sobre a brutalidade sofrida por Ana Caroline.
“Os crimes de ódio, como o cometido contra Ana Caroline, que teve sua vida ceifada de maneira brutal, nos faz perceber que, embora tenhamos avançado na luta contra o machismo, precisamos seguir para que parem de nos matar”.
O Coletivo Feminino Plural é uma organização feminista não governamental de Porto Alegre, que foi fundada em 1996 por um grupo de mulheres identificadas com a luta pelos direitos humanos e cidadania de mulheres e de meninas.
Tem como missão contribuir para o empoderamento das mulheres e meninas, promovendo seus direitos humanos e sua cidadania plena, com respeito às diferenças e à justiça social.
“Seguimos na luta no que diz respeito ao enfrentamento ao machismo, a misoginia, a lesbofobia. Sempre através da perspectiva de um trabalho sério que considere a diversidade das pessoas, buscamos a partir de uma concepção inclusiva formar os indivíduos para que compreendam para onde vai seus preconceitos caso não sejam trabalhados”, explica.
Não só o Coletivo, mas inúmeros grupos pelo país, seguem na luta contra a violência sofrida por mulheres lésbicas, e procurando dar cada vez mais visibilidade para essa comunidade que muitas vezes é deixada de lado ou menosprezada pela sociedade.
Confira o registro fotográfico de Igor Sperotto da manifestação ocorrida em Porto Alegre no dia 21 de dezembro:
Nicoly Owicki é estagiária de jornalismo. Matéria elaborada com supervisão de César Fraga.