MOVIMENTO

Metalúrgicos usaram prática em mobilização no socorro a desabrigados

Assim como o Stimepa, a experiência em mobilização do movimento sindical foi decisiva no socorro e assistência à população desabrigada de diversas comunidades
Por Ernani Campello / Publicado em 24 de maio de 2024

Metalúrgicos colocaram toda experiência de mobilização para atender desabrigados

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Com a experiência de 93 anos de atuação no suporte às famílias dos associados, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, (Stimepa) colocou toda a sua força mobilizatória a serviço de desabrigados e afetados pela enchente do Guaíba desde o dia 3 de maio.

Com atuações sociais permanentes em comunidades de regiões atingidas pelas águas do Guaíba nesta calamidade, o Stimepa agiu rápido e conseguiu evacuar dezenas de famílias de suas casas localizadas nos bairros Humaitá e Vila Farrapos e na comunidade Beira do Rio, que fica entre o Centro de Treinamentos do Grêmio Football Porto-Alegrense e as margens do Guaíba, ainda no dia 3, antes das águas invadirem por completo as residências.

NESTA REPORTAGEM
Por duas semanas, a sede do Stimepa foi o lar dessas famílias, que foram atendidas com refeições diárias produzidas no próprio sindicato e serviços com o acompanhamento de profissionais e voluntários como médico, psicólogo, recreacionista e cabelereiro.

Os abrigados também tiveram o acompanhamento de assistentes sociais e aulas de inclusão digital para as crianças e de noções básicas de eletricidade aos adultos interessados, além de assistência jurídica através do Serviço de Assistência Jurídica Universitária (Saju) da Faculdade de Direito da Ufrgs.

Metalúrgicos colocaram toda experiência de mobilização para atender desabrigados

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Ao todo, o Sindicato dos Metalúrgicos chegou a acolher 220 pessoas, sendo 55 crianças. No sábado, dia 18, as pessoas foram realocadas na unidade do Sesi Rubem Berta.

“Eram famílias que já conhecíamos por trabalhos sociais realizados nessas comunidades. Então fomos procurados pelo pessoal da Uampa (União das associações de Moradores de Porto Alegre) e decidimos abrir o sindicato e a escola Mesquita para receber essas famílias, que chegaram a somar 220 pessoas aqui acomodadas”, lembra o presidente do Stimepa, Adriano Felippetto.

Metalúrgicos colocaram toda experiência de mobilização para atender desabrigados

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Mobilização começou antes

“A gente começou uma mobilização ainda na sexta-feira, 3, em cada comunidade em que temos relação informando a catástrofe que estava por vir e fizemos um contato com o presidente do Stimepa, que prontamente colocou as dependências do sindicato à disposição para acolhermos essas famílias”, completa Brunno Mattos, secretário geral da Uampa.

Após esses contatos, ainda na sexta-feira, mesmo durante a noite, as famílias foram transportadas em caminhões de colaboradores e voluntários para as dependências do sindicato, na avenida do Forte, zona norte da capital.

Com uma rede solidária que inclui sindicatos metalúrgicos de outras cidades e de outros estados brasileiros, empresas, associações e colaboradores, os donativos que chegam ao Stimepa desde o início da calamidade já foram distribuídos para mais de 50 entidades que estão atuando no atendimentos aos atingidos pelas cheias do Guaíba na região metropolitana.

O local continua servindo como ponto de distribuição de mantimentos para abrigos da região metropolitana. Somente nesta quinta-feira, 23, foram entregues 150 cestas básicas recebidas via Empresa Brasileira de Correios.

Com o trabalho incansável de voluntários e associados, essas doações foram descarregadas de um caminhão e distribuídas mesmo com a forte chuva que castigou ainda mais a cidade neste dia.

Metalúrgicos colocaram toda experiência de mobilização para atender desabrigados

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Compromisso com a comunidade

“Neste momento desafiador, reforçamos nosso compromisso com a comunidade e expressamos nossa gratidão aos voluntários, parceiros e todos os envolvidos que têm se unido nessa missão de solidariedade e apoio mútuo”, conclui Adriano Filipetto.

Durante as duas semanas de acolhimento, também foram acionadas equipes da Fundação de Assistência Social da Prefeitura de Porto Alegre (Fasc) para o acompanhamento das famílias e uma equipe do Tribunal de Justiça que esteve confeccionando novas certidões de nascimento e casamento para quem perdeu esses documentos na hora de deixar a residência às pressas.

O professor Igor Kuhn, da Escola Técnica Mesquita, liderou oficinas e aulas de introdução digital para as crianças e aulas de noções de eletricidade com o objetivo de auxiliar as pessoas na recuperação de utensílios domésticos quando retornarem para casa.

“Foi uma experiência inédita em minha trajetória como educador e foi muito gratificante pelo interesse das crianças, sendo que muitas tiveram aqui o primeiro contato com o computador”, afirma Kuhn.

Claudete Souza Oliveira, diretora do Mesquita, lembra que a escola, fundada e mantida pelo Sindicato dos Metalúrgicos, tem 61 anos de tradição no ensino técnico e hoje conta com 623 alunos matriculados em cursos técnicos e profissionalizantes, além de cerca de 700 alunos no ensino regular, do fundamental ao médio.

Metalúrgicos colocaram toda experiência de mobilização para atender desabrigados

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

CUT forma rede de apoio com sindicatos

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Amarildo Cenci, destaca que o trabalho com estas famílias seguirá com a luta por moradia digna.

“Muitas dessas famílias não terão casa para voltar e também estaremos atentos em garantir os direitos dos trabalhadores e prontos para socorrer todos aqueles trabalhadores que perderam tudo nesta calamidade”, afirma Cenci.

A CUT vem coordenando uma frente de trabalho com diversos sindicatos envolvidos no enfrentamento aos danos causados pela enchente.

Na sexta-feira, 24 de maio, a entidade lança a criação de uma central de produtos para abastecer as cozinhas solidárias.

Segundo Cenci, ao todo são cerca de 20 cozinhas comunitárias que os sindicatos estão apoiando, incluindo iniciativas de cozinhas próprias para abastecer abrigos, como no Stimepa, no Sindicatos dos Trabalhadores da Saúde de Porto Alegre, nos sindicatos de metalúrgicos de São Leopoldo, Canoas e Cachoeirinha, no Sindicato do Municipários de Alvorada e no Sindibancários.

“O movimento sindical foi fantástico no apoio e na união neste momento de dificuldade, assim como o apoio de movimentos sindicais de muitos outros estados e agora, por orientação da CUT, os sindicatos estão mapeando os seus associados e representados que tiveram perdas para criarmos ações de apoio nessa reconstrução”, conclui Cenci, que também destaca a ação de entrega de cestas básicas em casas de familiares que estão acolhendo desabrigados em toda a grande Porto Alegre.

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