Microsoft acaba com sua área de diversidade
Foto: Microsoft/ Divulgação
No início de julho, a matriz global da Microsoft nos Estados Unidos demitiu toda a sua equipe de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), de acordo com uma informação vazada no último final de semana pelo portal de negócios de Nova York, Business Monitor. A revelação, que passou praticamente despercebida pela grande mídia, provocou indignação e esquentou o debate sobre as chamadas políticas afirmativas no mundo corporativo.
Frei David Santos, Diretor Executivo da Educafro Brasil, vê na decisão da Big Tech norte-americana um retrocesso.
Para ele, um dos principais expoentes da criação das políticas de cotas no Brasil, outras empresas que seguem o caminho da Microsoft revelam que há superficialidade em iniciativas de inclusão.
Antonia Quintão, Presidente do Geledés – Instituto da Mulher Negra e pesquisadora no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa e consultora de Diversidade e Inclusão, fala até de uma espécie de maquiagem corporativa.
“Quando uma empresa diz não ter dados sobre a participação das mulheres negras em cargos de chefia, ela já expõe a fragilidade do seu compromisso com a diversidade racial”, ressalta.
Projeto 2025
Apesar de ter feito circular uma mensagem de e-mail interna na qual menciona “mudanças nas necessidades de negócios” como justificativa para acabar com a equidade de gênero em seu ambiente corporativo, a Microsoft sustenta que mantêm seus compromissos, “priorizando a responsabilização e o foco” na Diversidade, Equidade e Inclusão.
No entanto, outro e-mail de uma das lideranças internas da empresa vazado pelo Business Monitor aponta uma possibilidade mais sombria para a decisão.
Na sua mensagem que frisa ser uma “opinião extraoficial”, o executivo diz acreditar que o movimento “não se aplica apenas à Microsoft” e que esse retrocesso mais amplo das corporações em relação à diversidade seria decorrência da possibilidade do candidato Republicano, Donald Trump, vencer as eleições nos Estados Unidos.
Em alusão explicita ao plano conservador compilado pela Heritage Foundation para remodelar o governo dos Estados Unidos e consolidar o poder Executivo, o head da Microsoft escreve: “O Projeto 2025 está se aproximando e o verdadeiro trabalho de mudança de sistemas associado aos programas de DEI em todos os lugares não é mais crítico para os negócios ou inteligente como era em 2020”.
De fato, grande parte dos compromissos assumidos pelas grandes corporações em DEI se realizaram próximo ao ano de 2020, ápice do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e de outros movimentos como o Me Too (Eu Também).
A CNBC, canal a cabo voltado para notícias de negócios, também registrou que Big Techs como Google e Meta também têm chamado a atenção nos Estados Unidos por demitir funcionários ligados a equipes de DEI.
ONU
Frei David lembra que a ONU proclamou o período entre 2015 e 2024 como a Década Internacional de Afrodescendentes.
“As normas da década recomendam enfaticamente que empresas promovam a equidade racial de forma ativa. Além disso, o Brasil, junto com outros países, recentemente acolheu a Convenção Interamericana contra o Racismo, reafirmando nosso compromisso em combater a discriminação racial e promover a igualdade”, registra o religioso.
Neste documento, afirma o Frei, “fica evidente que nenhum órgão público ou particular dos países signatários, podem cancelar ou reduzir uma politica de Ações Afirmativas sem esta alcançar seu objetivo”, conclui.