Leituras, leituras: o que eu tenho a ver com isso
O panorama da leitura no Brasil não é dos mais animadores. Embora tenhamos obtido progressos, nos últimos anos, em nossos índices de alfabetização, a leitura ainda não está instalada entre nós como hábito cotidiano.
Numerosos fatores contribuem para isso: dificuldade de acesso aos livros, carência de bibliotecas, falta de estímulo ao hábito da leitura, ausência de ambiências afetivas de leitura na história de cada um de nós, elevado preço dos livros, falta de orientação na escolha do que ler, etc… Hoje temos no Brasil 900 bibliotecas universitárias, 4.053 bibliotecas públicas e 3.000 bibliotecas privadas, (como as do Sesc, Senai, etc.). Metade dos municípios brasileiros não têm uma biblioteca pública.
E muitos de nós ainda fazemos, na maioria das vezes, uma leitura doutrinária dos textos, à semelhança da leitura dos textos sagrados, procurando extrair dali alguma verdade. Em geral, leituras moralizantes e moralistas. Assim procedendo, dificilmente saboreamos um texto, não há ocasião de banquete em nossas leituras. Ficamos aos sabor das modas de leitura, ditadas em geral pelos críticos e/ou pela mídia. Já gostamos ou criticamos de antemão, pela leitura de orelha. Não nos emocionamos com a leitura, seja para odiar o texto, ou para amá-lo.
O PROLER – Programa Nacional de Incentivo à Leitura, através do seu Comitê Local em Porto Alegre, oferece uma série de oficinas, painéis, debates e orientações, no sentido de tornar a experiência da leitura prazerosa, mesmo quando difícil. Um dos segredos dessa modalidade de leitura é facilitar a cada um a recuperação de seu acervo pessoal, da memória de sua trajetória de vida, colocando esse repertório de experiências em relação com a leitura do texto escrito, oportunizando a cada um percorrer um caminho original, fazer uma leitura particular do texto escrito. Essa delicada articulação entre leitura e memória vale também para a leitura de filmes, do teatro, da propaganda, enfim, para a leitura do mundo, sempre particular a cada um.
Para conhecer e compreender o mundo, não basta dar um nome a cada coisa. Todos sabemos, Deus e Adão deram nome às coisas. Mas foi Eva quem deu sentido, fez uma proposta em cima da maçã: vamos comer a maçã? Não basta saber o nome das coisas, se eu não argumento em cima disso. Fazer uma leitura é fazer propostas em cima do texto, articuladas com nossa trajetória de vida, nossos desejos e necessidades. Enfim, dialogar com a obra.
Ao trabalhar dessa forma, queremos oportunizar a construção de relações entre leitura e linguagem, articuladas com a sociedade e a cidadania: cada indivíduo tomando posse do seu discurso com os outros discursos, interpelando, interpretando, discutindo, completando, concordando, enfim, dialogando.
Para recuperar um pouco dessa emoção da leitura, pergunte a si mesmo: Qual o primeiro livro que eu comprei? Quando foi isso? Me lembro do primeiro livro que ganhei? Que emoção senti nesses momentos? Eu guardei esses livros? Onde estão? Que livro gostaria de ler? Qual minha preferência literária?
Arrume um lugar, um horário e um livro. E entre em contato conosco para discutir suas leituras. Ou mesmo para ajudar a arrumar esse lugar, esse horário e esse livro.
Boa leitura!
* Fernando Seffner é Coordenador do Comitê Porto Alegre do PROLER (Fundação Biblioteca Nacional). Contatos pelo fone (051) 221-6886