Uma nova ordem que se dá pela concentração de renda, da riqueza e do poder, pela destruição dos Estados Nacionais, de povos e culturas através da imposição do pensamento único e, de um único mercado. Nova ordem em que os Governos Nacionais são tratados como meros administradores do mercado. Em que o que conta é o programa econômico.
Em meados da década de 90, autoridades políticas e econômicas de destaque mundial, alcunhando-se o título de construtores de uma nova ordem social, reuniram-se nos Estados Unidos para debater e traçar os caminhos futuros da humanidade. Dentre os “insignes” representantes da nova ordem desejada, Ted Turner, proprietário da CNN, o maior complexo de co-municação do planeta, e John Gage, diretor da firma americana Sun Microsystems, transitavam livremente entre os arautos do livre mercado.
Sentindo-se na condição de estrelas globais, essas pragmáticas elites passaram a trabalhar a partir do pressuposto de que “governos e suas normas trabalhistas já teriam perdido qualquer significado” (Martin & Schumann, 1998, p.9.)
No desenvolvimento dos trabalhos, resumiram o futuro em um par de números e num neologismo: 20 por 80 e tittytainment (entretenimento). O que vale dizer: 20% da população em condições de trabalhar no século XXI bastaria para manter o ritmo da economia mundial (idem, 10). Repetir-se-á, por ventura, a velha política romana para o controle da plebe: “Pão e circo”? Os fatos e os números, porém, indicam que “a nova ordem moderna” adotará o lema “Mais circo que pão”. Para Marx “A História se repete”, porém em forma de farsa.
E o resto? Os 80% ficarão sem emprego? Para aqueles senhores a “visão de inimagináveis massas de desempregados foi encarada com naturalidade” (idem, 10)
No encerramento do conclave, instalara-se a firme convicção de que na nova ordem mundial não se contaria com uma classe média digna de nota e que mistura de diversão anestesiante, alimento suficiente e entretenimento poderiam manter satisfeita a vasta legião de frustrados e excluídos.
Nesta acepção, o padrão mundial do futuro da humanidade seguirá a fórmula 20 por 80, desponta a sociedade de um quinto e nela os sem-emprego e, por decorrência, os sem-educação, os sem-saúde, os sem-terra e os sem-futuro terão de ser controlados por meio do tal “entre-tenimento”.
Será isto tudo um exagero? Os números não mentem. Desde 1980 a distância entre o quinto mais rico e o quinto mais pobre da população mundial mais do que duplicou. Na América Latina e, de modo particular, no Brasil, a base da pirâmide social se alarga. As cifras dos desempregados são próximas aos 20% e o exército de analfabetos também. Tais índices certamente dão a medida da falência da esperança de desenvolvimento via globalização. O “turbocapitalismo”, cuja penetração agora parece inexorável, porque destrói a possibilidade da existência efetiva de um Estado democrático, capaz de funcionar com eficácia sob o controle da sociedade organizada, combinando a democracia representativa, poderes constituídos, com a democracia direta, que significa participação organizada nas decisões. A ideologia, infelizmente, tornou-se o eixo centralizador das decisões sociais contemporâneas.
É neste contexto que se projeta o VII Colóquio Nacional de Educação Popular e o V Colóquio Internacional de Educação Popular. E é devido à configuração dessa ambiência que este conclave educacional é justificável.
Na sociedade 20 por 80 que educação faremos? Que sociedade alternativa imaginamos? E, para que ela se transforme em realidade, que estratégias utilizaremos?
Mais do que em qualquer outra conjuntura sócio-político-econômica, a sociedade civil precisa debruçar-se atentamente sobre um projeto de nação, sobre as questões sociais e, no caso específico, sobre os educadores da educação formal e não formal. Cabe-nos, como sujeitos inscritos nesta história, estabelecer parâmetros de luta por uma educação de qualidade para os 80% que foram visualizados como excluídos das atividades produtivas, dos benefícios trazidos pelas altas tecnologias, de participação nos bens, do lazer e da cultura e das decisões políticas. Enfim, que se busque a globalização da riqueza para a legião dos excluídos, cujo Estado tem que ter uma grande fatia de responsabilidade, posto que seus governantes foram eleitos para atender prioritariamente as questões sociais.
Com mais detalhes, pode-se dizer que o VII Colóquio de Educação Popular e o V Colóquio Internacional de Educação Popular é proposto como exigência de estudos e debates para decifrar:
– as contradições provocadas pelo moderno sistema capitalista, excludente e gerador de miséria;
– os oráculos dos protagonistas e sustentadores do sistema neoliberal que proclamam com viva voz “o mercado é bom, a interferência do Estado é que é ruim”.
De modo específico, este conclave educacional, que se realizará com os pés na realidade mais próxima e com os olhos no mundo, propõe-se a criar espaços-tempo para analisar as questões educacionais do cotidiano vividas no chão da escola, que, são ignoradas, levarão à tomada de atitudes pedagógicas reforçadoras da exclusão social, via exclusão educacional.
* Este artigo é a justificativa com a qual a comissão organizadora fundamenta o projeto do VII Colóquio Nacional e do V Colóquio Internacional de Educação Popular, ambos promoção da Associação dos Professores da Fundação Universitária de Passo Fundo(APPF), CPERS-Sindicato, Mestrado da Faculdade de Educação da UPF e Sinpro/RS, com o apoio da Vice-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão da UPF e Secretaria Municipal de Educação de Passo Fundo.