Há um ano a gente fez um balanço de 1997 e manifestou a vontade de que 1998 fosse feito só de notícias boas. As manchetes de Extra Classe anunciariam o fim do analfabetismo, do desemprego, da poluição. Chamaríamos na capa a execução completa da reforma agrária, a dignificação do magistério, o respeito aos direitos humanos. Não foram essas as notícias. Continuamos tratando da extinção de direitos, de violências, de indignidades…
Infelizmente, talvez por isso mesmo, por praticar um jornalismo comprometido com a realidade social e com a agenda da maioria da população, nosso jornal revisitou – com muita honra – a lista de distinções do Prêmio Ari de Jornalismo e do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, através do trabalho das jornalistas Jacira Cabral da Silveira e Marcia Camarano, respectivamente. Mas não queremos repetir esses balanços de fim de ano, que quase sempre oscilam entre o auto-elogio e a mesmice das retrospectivas.
O jornalismo está feito, com a sua precariedade característica da pressa e do episódio palpitante que, ainda assim, faz dessas folhas de papel fonte primária de consulta científica. Deixemos que os pesquisadores, os historiadores, se encarreguem do exame exaustivo e da interpretação profunda, capazes de identificar os movimentos vitais da sociedade em direção ao seu futuro.
De nossa parte, preferimos reiterar no presente a convicção de nossas utopias. Porque não é apenas possível mas urgente edificar um futuro mais justo e mais humano, onde os bens materiais e espirituais produzidos pela humanidade sejam igualmente compartilhado por todos.
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Esta edição, quem sabe, encerre mais um ciclo de Extra Classe. Com ela estamos completando o terceiro ano de circulação, sempre de março a dezembro. Com certeza, o jornal alcançou o patamar da consolidação. Mas sabemos que é preciso, em qualquer atividade, renovar, reinventar e tornar a recriar. Faz parte da vida, faz parte do aprendizado, que não é uma palavra, mas um sentido no cotidiano da maioria de nossos leitores, os professores. Esperamos que este conjunto de reportagens e matérias que o leitor está recebendo também faça sentido e seja produtivo para a temporada de férias e para o próximo ano letivo.
A reportagem de capa procura esta síntese, que é a aventura humana na superação de obstáculos, com a perspectiva do conhecer, do autoconhecer e do transformar. A prática dos esportes em questão – o alpinismo, o montanhismo, o balonismo – vistos sob uma ótica humanística permitem reflexões instigantes. Este é um dos autênticos papéis de um jornal. Isto é, provocar, instigar seus leitores para além da aparência dos fatos. Aliás, fato considerável é o cinqüentenário da Declaração dos Direitos Humanos – em 10 de dezembro deste ano – que, apesar deste tempo todo, ainda prossegue sendo desrespeitada, particularmente pelo Estado, instituição eficiente na sua função repressiva e absolutamente ausente em garantir os direitos do cidadão e protegê-lo. Mas isso não deve ser motivo de lamentos mas de indignação e iniciativa. Razão para lamentar é a morte do artista plástico Vasco Prado, um dos mais sensíveis escultores do Rio Grande do Sul, que deixou uma obra telúrica, que de tão enraizada na cultura particular tornou-se universal – como são as verdadeiras obras de arte. Queremos que em 1999 se realizem muitas obras, que artistas como o cineasta Carlos Gerbase, que políticos como o governador eleito Olívio Dutra produzam belas e boas notícias. Novamente afirmamos o desejo de fazer do próximo ano mais um período de trabalho pelas boas notícias. Acreditamos que essa é a expectativa de todos aqueles que se reconhecem como seres humanos. Nesta esperança, estamos juntos. Outra vez…