Pode parecer um contrasenso, mas no século da ciência milhares, milhões de pessoas ainda morrem de doenças banais, gripes fortes, tuberculoses curáveis, enfermidades que não deveriam mais assustar ao sistema de saúde pública se ele tratasse com seriedade os seus clientes.
Mas não é assim. A falta de saneamento básico, as precárias condições de vida de uma grande parcela da população brasileira e a falta de respeito das autoridades pelo contribuinte transformam este final de milênio em uma grande interrogação: de que vamos morrer no século 21?
Com essa pergunta em algum canto da memória, a repórter Dóris Fialcoff saiu a campo para fazer uma constatação elementar: os pobres deste país continuarão morrendo de tuberculose, de gripe, de doenças curáveis para quem tem acesso a médicos, planos de saúde e hospitais particulares na hora em que precisar.
A reportagem está na capa desta edição do Extra Classe e traz também uma série de dicas básicas, que podem ser adotadas por qualquer pessoa, para prevenir visitas indesejáveis a doutores que nem sempre têm tempo de nos atender como deveriam.
Mais uma vez fica evidente a falta de respeito com o contribuinte, que recebe – em troca de seus impostos – hospitais públicos lotados e médicos que não têm tempo sequer de lavar as mãos entre uma consulta e outra. Com esse quadro, não é de espantar que 50 mil pessoas ainda morram de tuberculose todos os anos no Brasil. A doença, como se sabe, aterrorizou o país nos anos 20 e, pelo menos há cinco décadas, tem cura.
Parece, enfim, que o balanço a ser feito não pode ser outro. O século que termina registrou os inúmeros e fantásticos avanços da ciência, mas também cristalizou uma enorme distância entre quem pode e quem não pode ter acesso a seus benefícios. Ficamos mais fortes, mas também menos solidários.