Segundo alguns, as greves dos professores públicos estaduais, desde o final da década de 70, ocorriam em função de ser o Cpers/Sindicato um braço de partidos políticos. Nós, professores, dizíamos que a greve mostrava a disposição de uma categoria incoformada com o processo de exclusão e miséria às quais estava submetida.
Por um lado, a atual greve desmistifica o discurso fácil e demagógico de pronta solução do problema do magistério e funcionalismo público estadual. Está provado que não se tratava apenas de falta de vontade política do governo. Está provado também que os trabalhadores em educação não aceitam mais esse tratamento. A greve é justa e mostra a necessária independência de um sindicato em relação a qualquer governo.
Quantas categorias gostariam de protestar, de promover greves para superar defasagens salariais? Outras tantas gostariam de reconquistar direitos retirados pelo modelo implantado no país.Quantos desempregados, trabalhadores na economia informal, biscateiros e aposentados gostariam de protestar contra sua situação de miséria? Só não o fazem porque não estão organizados.
A redução do número de empregos e do poder aquisitivo dos trabalhadores ocorre em função de interesses da economia de “mercado”, a mão invisível capaz de controlar tudo. Os efeitos dessa política, em nível mundial, provocam um verdadeiro desastre social nos países de terceiro mundo.
A falta de vontade política não está nos eventuais governantes, seja em nível munici-pal, estadual ou federal.A falta de política para um desenvolvimento com mais qualidade de vida para a maioria da população tem origem nas relações internacionais ditadas e comandadas por altos interesses econômicos. São também responsáveis aqueles, como o atual governo federal, que apóiam esta inserção submissa de nosso país às formas de globalização.
Sabemos que existem problemas de ordem atuarial referente à remuneração dos trabalhadores, em especial do magistério público estadual. Se considerarmos a expectativa de vida das mulheres no Rio Grande do Sul, a mais alta do Brasil, logo constataremos a inviabilidade de melhoria considerável de nossa remuneração. Uma professora, com a justa aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho, tendo iniciado suas atividades aos 20 anos, terá cerca de 30 anos de vida com salário integral depois de se aposentar.
Em vista disso, a folha de pagamento dos inativos tende a se tornar cada vez maior, inviabilizando sem mais tardar o Tesouro estadual. Para superar tal impasse, há um caminho eficiente: atingirmos um crescimento do PIB acima de 8% ao ano. Esta política, no entanto, não é a do governo federal. Pelo contrário, há uma submissão aos interesses internacionais, entregando enormes quantias de recursos, todos os anos, resultantes do trabalho de toda uma nação, destinados a abastecer os cofres de grandes banqueiros internacionais.
A última moda é dizer que há superávit primário. Só não informam à população que neste cálculo das contas públicas está excluído o pagamento dos juros da dívida. Isto é, o suposto superávit transforma-se imediatamente em déficit público quando incluirmos os gastos destinados ao pagamento de nossa dívida. é uma sangria constante, aumentando nossa miséria, destinada a salvar e enriquecer meia dúzia de grandes empresários que dirigem o mundo.
Esta não é a primeira e nem será a última greve dos trabalhadores em educação ou de qualquer outra categoria. Enquanto não mudar o modelo econômico, responsável pela instauração de um insano e injustificável processo de exclusão em plena terceira fase da revolução industrial, não teremos paz.
* ângelo Dal Cin é professor da Unisinos e diretor do Sinpro/RS
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