OPINIÃO

Acerca de Neobobos, Fracassomaníacos e Professores

Publicado em 14 de dezembro de 2001

Não é a primeira vez que o Presidente Fernando Henrique Cardoso faz declarações que provocam a ira de toda a sociedade brasileira ou de parte dela. Só para recordar, classificou de neobobos aqueles que se opõem ao neoliberalismo, de fracassomaníacos aos críticos do modelo econômico, de Cassandras aos que se fazem previsões nada otimistas sobre o futuro da nossa economia e de vagabundos aos aposentados. Agora saiu-se com mais esta “pérola” a respeito da greve dos professores federais: “Se a pessoa não consegue produzir, coitada, vai ser professor. Então fica a angústia se vai ter um nome na praça ou se vai dar aula a vida inteira e repetir o que os outros fazem”. (F.S.Paulo, 28/11/01). Diante das reações, declarou que as observações foram feitas em tom simpático. “Que simpatia mais besta essa”, exclama Clóvis Rossi na Folha de S.Paulo. O filósofo Gramsci escreveu que as grandes descobertas são raras e o importante é socializar os conhecimentos. Ora, a sala de aula é um dos lugares apropriados para esta tarefa. Não há, então, nenhum desdouro em ensinar. Quando Roland Barthes, mesmo sem a tradicional titulação acadêmica, foi convidado a dar aula de Semiologia Literária na Universidade da França, em 1977, afirmou em sua fala inaugural, que há uma idade em que se ensina o que se sabe, outra em que se ensina o que não se sabe, ou seja, o que se pesquisou e, finalmente, vem a idade da experiência, entendida como “sapientia”, assim explicada: “nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor possível”. (A Aula, p.47). Saber e sabor têm, em latim, a mesma etimologia. Este “deslize” presidencial, partindo de um antigo professor, não contribui em nada para a sua biografia, que ele faz tanta questão em divulgar.

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