OPINIÃO

Ao gosto do freguês

Publicado em 12 de setembro de 2002

A face mais preocupante da mercantilização do ensino é justamente aquela que se apresenta sob disfarce, o simulacro, a fraude, mesmo na forma de produto posto em uma prateleira, ou melhor, em um grande drive thru onde os desavisados compram cursos rápidos e levam para casa diplomas sem recheio. A investigação do Extra Classe a respeito dos cursos de pós-graduação de final de semana e férias, que têm inundado os corredores das escolas estado afora, constatou uma série de irregularidades logo de início. Também ficou registrada a falta de critério da SEC no reconhecimento dos cursos lato sensu para fins de progressão dos planos de carreira, bem como a falta de uma legislação e fiscalização mais adequadas por conta do MEC. Para os professores estaduais, trata-se de tentar uma melhora nos salários e acrescentar conhecimentos ao currículo, mas, para o Estado, significa pagar a mais por uma qualificação duvidosa. E estamos falando de dinheiro público. Nada mais justo que um professor se qualifique e passe a ganhar mais por isso, mas essa qualificação deve ser concreta, verdadeira. Como um curso relâmpago, que não consegue cumprir as cargas-horárias mínimas exigidas e até mesmo respeitar as resoluções do CNE, que já são suficientemente generosas, pode garantir qualidade e legitimidade?

E, por falar em faces e simulacros, o que mais chama a atenção nas eleições presidenciais é o quanto o marketing substituiu as plataformas. O palanque eletrônico apresenta candidatos-personagens orientados pelos gurus da propaganda. As velhas ideologias e conceitos de direita e esquerda dão lugar à maquiagem, ao figurino, às frases e aos gestos estudados. Cada vírgula, cada respiração é e tem conseqüências nas pesquisas. Os candidatos são preparados ao gosto do freguês, o eleitor. Resta saber o quão exigente é esse consumidor, que possui um produto moldado ao seu gosto. Infelizmente, trata-se do mesmo eleitor de pleitos passados, um pouco mais calejado, mas o mesmo. O eleitor brasileiro tem o perfil que o censo do IBGE nos exibe e é ao gosto desse eleitor que os marqueteiros adequam seus candidatos. A política fica reduzida a uma questão de gosto. Gosto não se discute, política sim.

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