OPINIÃO

Ninguém trava em definitivo o progresso humano

Albino Spohr / Publicado em 30 de janeiro de 2006

A racionalidade, integrante do ser humano, só atua no sentido da vantagem maior possível, ou da desvantagem menor entre todas as possíveis para o sujeito, seja isto bom ou mau, honesto ou não.

A racionalidade orienta todas as decisões conscientes de qualquer ser huma no sempre pelo mesmo critério. Este único critério é: sempre que um ser humano tem uma opção a fazer em meio ao que está a seu alcance, só opta pelo que lhe parece mais conveniente, seja isto bom ou mau, justo ou injusto, ainda que se sinta fisicamente livre para qualquer outra opção. Com este critério único, a vida não pode retroceder, salvo erro ou engano, que é corrigido mais cedo ou mais tarde por causa do prejuízo ou aborrecimentos que ele causa. Em conduta, erro que não prejudica não é erro.

Por esta simples razão, a humanidade não se desvia em definitivo do seu curso de progresso desde a sua existência primitiva até a era espacial. Este critério diretivo é, portanto, anterior à racionalidade porque é também o sentido dos impulsos do irracional, que se serve do que de melhor encontra, sem cogitar de quem seja o dono. Isto significa que o irracional, tal como o homem mal-educado, não tem o senso da honestidade; eles só têm o senso da conveniência. Mas, pelo senso comum, temos sido levados a crer que teríamos adquirido também o senso e o dever de honestidade.

Na realidade, porém, aconteceu exatamente o contrário. A inteligência primária do irracional, depois de acrescida da racionalidade humana, procurou e encontrou, além do progresso técnico e científico, meios mais espertos de apoderar-se de tudo que lhe parecesse ter valor e que estivesse a seu alcance.

Esta maneira natural de ser criou um problema de confusão e de insegurança sociais que só a educação pode resolver. Mas todos sabem que a educação é uma ciência e uma arte muito recomendada, pouco conhecida e muito mal exercida. Por isto todos os avanços nesta área têm sido lentos.

Bem no início da racionalidade, o único limite para locupletar-se de bens pró-prios e alheios era a falta de capacidade ou de poder. O próximo mais fraco e sem poder de defender-se, era obrigado a trabalhar para o vizinho que fosse capaz de forçá-lo. Assim foi criada a escravatura, sem contestação de algum poder superior, civil ou religioso. Para entender melhor, resumo aqui a História: ela é o relato das guerras dos poderosos entre si para aumentar seus haveres, e contra os mais fracos para, com estes, crescer seus pertences.

É evidente que esta situação tem melhorado; o bicho-homem tem se humanizado, não movido por alguma doutrina codificada, mas pelo despertar natural e gradativo do bom senso inato e adormecido, à espera da educação que deve despertá-lo. Mas, enquanto a educação (não a didática de ensino) titubeia em busca de um embasamento lógico, a natureza faz a sua parte acelerando a evolução humanizadora.

Tomo como testemunho o livro mais antigo de crédito histórico, a Bíblia (bastaria a Tora): a violência e a desonestidade são tão antigas como o mundo, e que o homem, para ser honesto e respeitoso, precisa ser educado para o ser. Se na ciência e na técnica não há o problema do embuste, é porque os resultados são conferidos objetivamente, sem possibilidade de logro.

Educar não é dar bons e esporádicos conselhos. Educar é criar bons hábitos através de contínuas e agradáveis motivações, disfarçadas em diálogos amistosos, ou por leituras diárias de curtas e estimulantes sabedorias (automotivações). Não é educação aquela que não cria o justo e discreto orgulho de ser honesto junto com a aversão à vergonha de ser considerado mentiroso ou corrupto e, portanto, inconfiável.

Simplificando a educação para a ética socialmente perfeita, em vida paradisíaca: Viva todas as alegrias da vida, e faça outros vivê-las, desde que não prejudique nem desrespeite a ninguém.

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