A constituição do sujeito aluno no espaço escolar
Este artigo surgiu de uma pesquisa realizada em uma escola estadual de Porto Alegre, onde procurei estudar e problematizar o aluno que a escola estava e está constituindo, partindo da premissa de que ser aluno, como bem coloca Maria Luisa Xavier (2004), não é uma condição natural, requer aprendizagens, é uma questão cultural. Daí emergiram questões fundamentais para o desenvolvimento do trabalho: como estava sendo constituído o sujeito aluno nesta instituição? Quais práticas pedagógicas e disciplinares estavam sendo utilizadas para viabilizar a constituição desse aluno? Para prosseguir nesse estudo, coletei dados sobre “O que era ser aluno” com alunos de 3ª e 4ª séries. Registrei dados das observações do cotidiano escolar (entrada e saída dos alunos, discursos dos professores…). Fiz ainda uma releitura do Plano Político Pedagógico.
Alguns teóricos foram importantes para esse estudo, entre eles, Françóis Dubet (1997), Cristiane Rocha (2004), Michel Foucault com o conceito de disciplina, que num sentido político é definido como: “Vigiar alguém, como controlar sua conduta, seu comportamento, suas atitudes, como intensificar seu rendimento, como multiplicar suas capacidades, como colocá-lo no lugar onde será mais útil” (Foucault, 1990, apud Gallo, 2004, p. 91).
A partir da análise dos dados, constatei que esta escola estava (está) contribuindo para a constituição de um sujeito aluno submisso, calado, aculturado, que devia ser iluminado pelo saber escolar, controlado inclusive no recreio. Lembro como se fosse hoje, que num dia chuvoso, frio, os alunos tiveram que ficar no pátio alagado, esperando a professora organizar a fila para subirem para as salas de aula, molhados e sem barulho algum. Além dessas cenas, lembro dos funcionários, professores e membros do corpo diretivo diariamente controlando, vigiando o comportamento dos alunos, cuidando seus gestos, suas impostações de voz, e tudo isto acontecendo pelo uso desenfreado de gritos, punições (ficar de castigo na mesa do saguão) e proibições da circulação destes nos corredores e no saguão próximo da sala dos professores e da direção. Tratados como marginais, perigosos, evitava-se inclusive o contato físico.
A instituição parecia acreditar que os “[…] indivíduos sentados, isolados, condicionados, vigiados, são facilmente manipulados e hierarquizados” (Rocha, 2004, p. 124). E, mesmo não havendo um planejamento efetivo, um movimento político sobre o aluno que queria estava produzindo este sujeito, tentando a docilização. Mas, havia espaço para a resistência por parte dos alunos. Acostumados como estavam pela vivência em um espaço repressor, até mesmo nas minhas aulas, em que buscava oportunizar um clima mais humano, fazê-los pensar, refletir, construir conhecimentos, enfrentei dificuldades e também as resistências. Contudo, não desisti de tentar e acreditar na humanidade de cada um deles.