A preocupação com a influência que a mídia exerce sobre as criançasé pertinente e necessária, para que os adultos que são responsáveis por elas possam refletir sobre suas ações.
Outro caminho, no entanto, pode ser trilhado para pensar a mesma questão. Em termos de formação de professores, ou de formação continuada – nas escolas e órgãos que as supervisionam –, é necessário que sejam tratadas questões de subjetivação em uma sociedade competitiva globalizada. Para refletir sobre o que acontece com as crianças, é preciso que o próprio sujeito adulto analise e reflita sobre os processos que o levam a assumir certos valores e certas representações sociais, os quais são fortemente influenciados pela mídia que, de uma forma ou de outra, penetra todas as camadas sociais. Sem esse processo, como fazer frente àquilo que acontece com as crianças?
A sociedade capitalista ocidental em que vivemos está aí e não há retorno. Ainda, existe uma complexidade cada vez maior e sempre novas formas de se recompor e atuar sobre o sujeito. O que é contemporâneo é a intencionalidade visível de atenção da mídia sobre as crianças, mas dentro de um cenário global de cooptação do desejo de todos sujeitos. Como nos diz Joel Birman em Malestar na atualidade: “Nas últimas décadas, constituiu-se no Ocidente uma nova cartografia do social, em que a fragmentação da subjetividade ocupa posição fundamental”. E isso dá-se pelo convite ininterrupto ao “autocentramento [que] se apresenta inicialmente sob a forma da estetização da existência, onde o que importa para a individualidade é a exaltação gloriosa do próprio eu”, com todas conseqüências daí advindas, dentre as quais a suposta obtenção da felicidade através do “esmero desmedido na constituição da imagem pela individualidade”.
Como, então, pensar práticas pedagógicas que enfrentem o que a mídia procura fazer junto às nossas crianças, se as escolas, sistemas de ensino e os professores não privilegiam a compreensão dos mecanismos em que eles próprios estão enredados?