OPINIÃO

Humildes na esperança

Por Alexandre Cruz Berg / Publicado em 17 de junho de 2009

Somos humildes na esperança de um dia sermos poderosos”. Esse aforismo do inesquecível poeta Carlos Drummond de Andrade representa a síntese do que vivemos nesses últimos nove meses de trabalho na Ulbra. Atividades marcadas pelo desrespeito através de tratamentos truculentos, humilhação, assédio moral e, finalmente, o atraso no pagamento de salários. Essa trajetória intensificou-se nesse período, porém, sempre existiu na relação da Ulbra com os seus trabalhadores.

Na história da instituição houve a metamorfose do nosso espírito docente em um camelo a serviço desse formato de gestão medieval, que contava com seu protagonista feudal na figura do “magnífico” e até aquele momento único reitor. Fez com que esses espíritos camelos suportassem pesados fardos, parafraseando Nietzsche no seu livro Assim falou Zaratrustra, como me fez lembrar meu amigo de trabalho André Peres. E assim nós passamos a fazer amizade com uma gestão de surdos que nunca ouviam o que pedíamos. Estendendo nossas mãos ao fantasma que procurava nos assustar.

Mas esse fardo nos levou ao deserto da falta de salários e ali nos transformou em leões, fazendo-nos lutar pela liberdade através da verdade, numa alusão ao lema institucional A verdade vos libertará. E nessa metamorfose inicial éramos algumas dezenas de leões docentes e tínhamos que enfrentar o dragão “Tu deves”, em ordens como “Tu deves dar aula de graça”, “Tu deves pesquisar sem receber bolsa”, “Tu deves orientar 12 horas-aula e receber o equivalente a meia hora-aula”. Ele fulminava suas labaredas em ameaças a nós que havíamos nos libertado e elas se intensificaram no verão de 2009. E nós respondíamos “Eu quero ser respeitado como pessoa, como profissional, como pesquisador e como professor”, Eu Quero! Nosso reitor-dragão nos repetia que, na Ulbra, “o futuro já começou” e que, nesse futuro, não existia o “Eu quero” dos subordinados. Como leões passamos a criar novos valores e conquistamos o direito sagrado de dizer “não”, “chega”.

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Arte: Rodrigo Vizzotto/D3 Comunicação

Arte: Rodrigo Vizzotto/D3 Comunicação

Nas vésperas da Páscoa, passamos a travar um rude combate de nos libertarmos da tirania exercida pela Reitoria, nos apoderamos da esperança e ganhamos aliados. Já não éramos mais dezenas, mas centenas a ganhar as ruas, numa coragem leonina, dentro e fora da academia. Dia e noite, lá estávamos num número crescente de leões com narizes de palhaços e apitos, a enfrentar o dragão que nos oprimia com sua arrogância. Até que não suportou nossos rugidos e pediu para sair, depois de 36 anos de gestão intimidatória.

Assim, de altivos leões nos metamorfoseamos em crianças num novo começar, uma roda que gira por si própria, um espírito que quer agora a sua própria verdade, que conquistou seu lugar dentro da Ulbra e conquistou seu próprio mundo na protagonização dos dias que virão, pois agora, sim, “O futuro começou” e fomos nós, professores, alunos, funcionários administrativos e da saúde, que o fizemos começar. “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”. (Nietzsche).

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