OPINIÃO

Professores, os coadjuvantes

Marcelo Frizon / Publicado em 13 de março de 2012

Nos últimos meses acompanhamos diversos programas televisivos que tratavam de educação (normalmente sobre Enem, Ideb ou sobre os distúrbios na USP etc.). Na maioria deles, os professores estavam ausentes. Simplesmente não havia um professor sendo entrevistado ou participando do debate proposto. Vimos políticos, economistas e administradores discutindo os problemas da educação brasileira, dando a sua opinião, a sua visão das coisas, mas não vimos um professor sequer. Eu fiquei com a impressão de que só a mim isso incomoda.

O professor é um dos protagonistas do processo de ensino e aprendizagem, o outro é o aluno. Por que, então, um economista tem mais a declarar que um professor sobre educação? Afinal, que experiência tem uma pessoa com bacharelado para falar sobre como deve ser o ensino dado por licenciados? Realmente, são impressionantes os dados trazidos por esses especialistas em Educação. É assim que eles se apresentam: especialistas em Educação. Não importa que suas graduações não tratem em nenhum momento de nada relacionado a ensino. Não importa que a última vez que eles pisaram numa sala de aula foi há mais de 15 anos na condição de alunos. Não importa que eles nunca tiveram de ministrar uma turma de 30, 40, 50 alunos. Não importa que eles não saibam que prender a atenção de uma turma inteira é tarefa quase impossível, porque ali estão presentes 30, 40, 50 realidades completamente diferentes: temos uma menina que pensa no namorado, outra que está preocupada com o Justin Bieber, um menino que viu os pais brigarem feio na noite anterior, outro que está pensando na última contratação do seu time de futebol, e por aí vai. Importa que eles têm números e dados estatísticos reais e precisos sobre a educação brasileira. Importa que eles falam bem e melhor que os professores. Importa que eles são mais bonitos que os professores. Importa que eles sabem fazer aquilo que os professores não sabem, ou seja, ganhar dinheiro. No fundo, eles são quase o oposto do professor. E são eles que falam sobre educação, não os professores.

A educação brasileira tem muitas falhas, e esses especialistas em Educação são especialistas em apontá-las. Muitos projetos estão sendo desenvolvidos, em todos os níveis de ensino, para que essa realidade mude, se transforme. No entanto, para que isso ocorra os professores também precisam ser ouvidos. Resta saber se eles têm algo a declarar, ou melhor, se nós temos, porque não podemos ficar esperando o jornalista fazer o convite. Nós, professores, temos de abandonar a coadjuvância e reassumir o papel que nos cabe, inclusive fora da sala de aula: o de protagonistas da educação.

*Professor de Literatura das escolas Rainha do Brasil
La Salle Dores e Santo Antonio

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