OPINIÃO

Elite branca e agrotóxicos

Publicado em 12 de abril de 2012

O desejo de estudar Medicina, não para abrir um consultório em uma zona residencial de classe média alta, mas para cuidar dos doentes das suas aldeias vem defrontando estudantes indígenas com o preconceito racial e de classe na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Alunos da etnia kaingang cotistas do tradicionalíssimo curso de Medicina da federal ingressaram com uma ação cível no Ministério Público Federal contra professores acusados de discriminá-los em sala de aula, manipular notas e procedimentos de avaliação para reprová-los e ainda desqualificar as políticas de cotas de forma reiterada na presença de indígenas e afrodescendentes.

Na reportagem de capa desta edição, o Extra Classe investigou as denúncias de discriminação na instituição federal. A constatação é que, para as minorias, estudar no Ensino Superior público passou a exigir mais do que boas notas, frequência às aulas e adaptação, mas também uma luta contra a discriminação. Afinal, isso explica por que a presença de indígenas e negros nas universidades públicas permanece rara. As manifestações de discriminação e preconceito contra as minorias étnicas se agravaram com a adoção das políticas de cotas e se concentram em instituições e ambientes tradicionais, onde imperam o conservadorismo, como é o caso da Faculdade de Medicina da Ufrgs. Episódios que jogam por terra a imagem de hospitalidade e avanço social que o estado insiste em exportar para o restante do país.

Na editoria de Ambiente, uma análise histórica da Lei dos Agrotóxicos, instituída há meio século e que não impediu que o Brasil se convertesse no maior consumidor de defensivos agrícolas do planeta. Seu modelo de agronegócio que privilegia o agrotóxico em detrimento de tecnologias alternativas é responsável pelo uso de 1 bilhão de litros de defensivos por ano, o que equivale ao consumo de 5 litros por habitante. Na entrevista do mês, a educadora Maria Lucia Vasconcelos analisa o esvaziamento e o desprestígio crescentes dos professores, resultado do descaso político e da cultura mercantilista no ensino. Pesquisa do Departamento de Pós-graduação em Psicologia da Unisinos revela que as atividades extraclasse, o excesso de trabalho e a desconexão são fatores que elevam o nível de estresse dos professores do ensino privado no estado.

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