OPINIÃO

O destino do livro

Por Wagner Coriolano de Abreu * / Publicado em 10 de julho de 2012

Com a sugestiva expressão “ler faz bem”, em sua obra Fim do livro, fim dos leitores? (Editora Senac, 2001) a escritora e professora Regina Zilberman brinda seus leitores com uma pequena história da recepção da leitura, desde a novela Dom Quixote (1605), de Miguel de Cervantes, até o romance São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos, com a qual questiona certa fama perigosa da leitura, que comprometeria a vida social e mental da personagem leitora.

Dos livros que aparecem no intercurso do período assinalado, temos o romance de Jane Austen, Razão e sensibilidade (1811), que inscreve a personagem feminina como público leitor. E ainda temos a transformação do livro, que passa de produto manufaturado a produto massificado, devido ao aperfeiçoamento das artes gráficas, com a fabricação industrial do papel e o incremento das máquinas rotativas.

Esta aproximação entre o universo da leitura e da produção de livros sugere a entrada em um mundo cuja existência da imprensa livre e da pessoa alfabetizada é dada como certa, ao menos em termos de autonomia e domínio da escrita. Nos tempos atuais, o negócio de livros se tornou um ótimo indicador da saúde intelectual da sociedade. Não é demais lembrar que alfabetizado é todo aquele que aprendeu a ler e lê. O mais difícil, conforme sublinhou Mario Quintana, é desler.

O livro deve sua existência à ação diuturna de leitores, escritores e editores, embora haja outros atores que o tornam um produto interessante e com boa visibilidade. Do escritor ao leitor, há uma longa jornada de trabalho. De certo modo, a satisfação de ler um livro se relaciona com o trabalho do editor, quando examina um inédito e o indica para publicação. Ao fazer a leitura prévia, orienta o público e qualifica o livro. Nesse sentido, o trânsito que tem no cenário cultural e o gosto pela leitura são de inestimável valor.

De trânsito também se trata o movimento que o leitor faz para dentro da interioridade alheia quando lê, por exemplo, um romance intimista. A faculdade de aproximar as pessoas, como possibilidade de entrada em “um mundo conhecível em virtude de revelações contidas em uma obra literária”, bem explica o envolvimento do leitor neste mergulho, como aponta Regina quando trata da expressão “ler faz mal”. Colocando em destaque as duas expressões, a escritora abre veredas para repensar a visão de mundo petrificada nas ideias inertes. A escola tem muito a ganhar com os alunos leitores de livro, este infinito páramo do sonho, como bem o definiu Olavo Bilac.

*Professor, cronista, autor de Sempre aos pares (Carta, 2012), leciona nos cursos de graduação tecnológica da Ftec/RS.

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