Escrever. Morro de medo disso. É colocar-se na fronteira. Lugar de suspensão. De medo e ousadia. Inaugura na alma da gente um espaço-tempo de possibilidades, do dizível e do indizível, daquilo ainda não imaginado e de tudo que já se disse. Do que penso e do que nem ouso, daquele pensamento sequer pressentido. Daí o risco, o perigo.
Todavia, é preciso. Preciso de necessidade, de precisão; não de perfeição, porque toda escrita é imprecisa no sentido de oportunizar que possamos dizer aquilo que ainda não sabemos. E se não escrevemos, aí mesmo é que não saberemos. Eis a origem da necessidade. A escrita é muito mais do que prática, exercício por isso. É jogo, brincadeira, poesia. Não serve para nada e ao mesmo tempo é tudo. O principal alimento de nossa espécie.
Pela escrita, e com ela, inventamos outros lugares de perigo. A escola, por exemplo. Como ir a esse lugar sem sentir algum arrepio? Estar na escola é arriscar-se na fronteira do que sabemos e do que podemos aprender. E, todavia, temos coragem de escrever e de ir à escola: lugares em que tudo é possível. Ao menos deveriam ser. Por isso, é preciso escrever. Para pensar. Para organizar o que pensamos, para inventar, sonhar, para viver é preciso o risco. É preciso escrever, estar na escrita para falar nela. Assim como é preciso estar na escola. Para dizer desse lugar a escola de que preciso.
É preciso escrever da escola, e para a escola, porque é difícil estar nessa fronteira e apenas observar. Impossível ficar aí sem saber o que ela seria se não a disséssemos, se não a narrássemos. Se não houvesse narrativas da escola, nada saberíamos, assim como se não houvesse narrativas, linguagem, escrita. Não haveria risco; nenhuma fronteira a nos desafiar.
Escrevo, portanto, porque é preciso. E porque é um risco escrever e ir à escola é que aprendemos a ousar. A estar nas fronteiras e de repente ir além. Escrevo e vou à escola porque preciso pensar. Para pensar-se e pensar os outros é preciso escrever, como ir à escola. É necessário escrever para aprender a pensar com os pensamentos da gente. Pensar com o pensamento dos outros, deixemos isso para a leitura. Para pensar a escola entre o mais profundo vazio e a plenitude do universo precisoconhecê-la e concebê-la assim. Como lugar de encontro. Lugar para estar, acolher o outro e viver com ele a experiência dos desafios, das fronteiras.
Será que temos uma escola assim? Se não a temos, alegro-me só de imaginá-la. Como lugar de encontro, essa escola inaugura em mim a sede de estar com outros e o prazer de aprender nesse encontro, de conhecer esse sabor e o risco de pensar.
*Doutor em Educação pelo PPGEdu/Ufrgs, professor do Departamento de Educação e do Mestrado em Educação da Unisc