Logo que encerraram as eleições, entre obviedades e lugares comuns, ficou a predominante análise da rejeição à política por conta da imensa maioria de votos brancos, nulos e abstenções que superou os candidatos eleitos mais votados na maioria das capitais, o que inclui Porto Alegre, em ambos os turnos. Inclusive, com a tese do marqueteiro vencedor na capital gaúcha publicada no veículo de maior leitura do RS, que atribui à escolha do eleitor por políticos não tradicionais e pela “opção pela realidade”.
Ora, ora, diz-se isso como se a realidade não fosse inventada, fragmentada e relativizada o tempo todo, tanto à percepção das massas quanto à manipulação dos meios em que ela é reportada e reproduzida. O dia a dia – apesar de vivido na prática – todas as noites é reinterpretado pelo jornalismo posicionado e parceiro de grupos econômicos, que ajuda a subjetivar a tal objetividade vivida nas ruas de acordo com seus interesses.
Sabe-se que parte dos eleitores de Alckmin votou em Lula e que parte dos eleitores de Lula votou em Dória. Da mesma forma, sabe-se que o eleitor de Luciana Genro ajudou a eleger Marchezan Jr. Fenômenos esses que partem de como funciona o eleitorado historicamente no país. Quando Lula foi eleito, Duda Mendonça, o marqueteiro do PT na época, partiu da tese que existem três terços. Segundo ele, o terço que votaria em Lula não era suficiente, outro terço não mudaria o voto contra Lula, mas existia um terceiro terço, mais volátil, que oscila entre a rejeição à política, apatia a qualquer lado (pois não pensa em termos de direita e esquerda) e que pode aderir tanto a um quanto a outro projeto, inclusive de forma diferenciada nos níveis municipal, estadual e federal. E foi este terceiro terço quem definiu as eleições, tanto em anos passados quanto agora, tanto para negar a política, quanto para mudar de lado.
Para 2018, ficará a difícil tarefa de quem faz política de disputar este terço flutuante. Mas enquanto isso não acontece, o que se vê é uma escalada conservadora da política tradicional, mesmo que disfarçada de “o novo” em grande parte atrelada a igrejas pentecostais ou a constituída por representantes de setores do capital. Esses grupos vêm conquistando cada vez mais cadeiras legislativas e cargos nos executivos, com o claro objetivo de pavimentar eleições futuras e flexibilizar direitos dos trabalhadores, que são a maior parte dos eleitores. E o que temos? De um lado os trabalhadores votam contra seus interesses e de outro os partidos que se consideram progressistas, porém não conseguem se comunicar com esses eleitores de forma tão eficaz quando os meios de comunicação de massa conseguem subjetivá-los. Mas, no final das contas, o que define sempre a política não é a realidade, mas como se lê “é a economia, estúpido”; e qual versão é comprada pelas massas..