Ultimamente, temos vivenciado uma enxurrada de alertas sobre os jogos virtuais que podem levar ao suicídio de crianças e adolescentes. São informações que jorram das redes sociais, muitas vezes, sem o cuidado devido a um assunto tão delicado. Acompanhando esse tema, as séries, que supostamente buscam esclarecer questões relacionadas ao bullying e ao descaso escolar, acabam direcionando as discussões para uma verdadeira “caça às bruxas”. Porém, o assunto é mais polêmico do que parece porque toca em feridas e mazelas de duas instituições que devem andar juntas, aliadas na formação de nossas crianças e jovens: a escola e a família.
As tentativas de identificar se nossos alunos estão inseridos no mundo dos jogos virtuais potencialmente perigosos vai além de só observar comportamentos. Na sociedade individualista em que vivemos, em que respeitar a privacidade tornou-se uma lei com regras ocultas, fazer perguntas, chamar para uma conversa pode ser interpretado como invasão. A escola e a família devem ser aliadas na comunicação com nossos alunos/filhos. Se há dificuldades de interação, deve-se buscar o fortalecimento em parcerias de conversas e, principalmente, de escuta. Estar atentos a comportamentos de isolamento, horas separados do convívio familiar, muitas vezes trancados em quartos com todo tipo de acesso às redes virtuais, faz parte do ser família. Os temas de interesse, a preocupação em ter que dar conta de algo que não pode explicar também devem fazer parte do rol de cuidados da família e da escola. Falar sobre o assunto, abrir espaços para o diálogo, tirar dúvidas, expressar-se são importantes estratégias para abertura de canais de ajuda. As crianças e adolescentes podem resistir, mas quando se sentem protegidos e aceitos, tendem a falar, mesmo que por meios não convencionais como o desenho, as atitudes, o tipo de músicas que ouvem.
O que importa nesse momento, mais do que buscar culpados e potencializar o tema específico de jogos e séries, é desenvolver valores que humanizem nossos alunos. Trata-se da valorização da vida por meio de amizades, momentos de convívio e parcerias entre a família e a escola, que devem considerar-se aliadas na formação de seres humanos cheios de sentido e profundo sentimento de pertença. Mesmo nas dificuldades que enfrentam, saberão que não estão sozinhos, mas alicerçados em adultos compreensivos e amorosos.
As palestras e esclarecimentos sobre jogos e séries são importantes, porém, não substituem as atitudes de gentileza, de respeito, os momentos de escuta e as demonstrações de afeto e cuidado. A maior e mais eficaz maneira de manter nossas crianças e adolescentes distantes do que hoje tornou-se uma ameaça potencializada pela internet, a tentativa de suicídio, ainda é a valorização da vida.