OPINIÃO

“Nãopotismo”

Por Luis Fernando Verissimo / Publicado em 14 de agosto de 2019

Ilustração: Ricardo Machado

Ilustração: Ricardo Machado

Não sejamos injustos. A discussão sobre se um presidente da República nomear um filho embaixador constitui nepotismo ou não toma um rumo indesejável, agravado pela ignorância ou a má-fé. Muitos não sabem, ou fingem não saber – ou, ao contrário do filho do presidente, não conhecem outra língua além do português – que a palavra “nepote” é italiana, significa “sobrinho” e ganhou conotação política com o costume dos papas antigos de presentear parentes com poder, ou nacos de poder, uma prática que ganhou o nome de “nepotismo”.

Os críticos do presidente não aceitam os argumentos dos que o defendem lembrando que – como é um presidente diferente, com um estilo só seu e hábitos incomuns, como o de treinar tiro ao alvo mirando o próprio pé – não se poderia esperar que fosse um presidente comum. Também não devemos esquecer que o homem que hoje diz que um presidente nomear um filho embaixador não é nepotismo é o mesmo que disse que não houve ditadura no Brasil, uma opinião também ridicularizada, na época, mas que provou ser a mesma de 60 milhões de eleitores brasileiros, desagravando o presidente.

Para responder aos seus críticos, o presidente poderia recorrer à ironia e também ridicularizá-los, lembrando que – como a ditadura – a prática de nomear parentes nunca existiu no Brasil, portanto o que existe é o que poderia ser chamado de “nãopotismo”. Ou então, já que só pode ser coisa de comunista tentando ressuscitar a esquerda, de “neopetismo”.

Ou o presidente pode contra-atacar e desafiar seus críticos a encontrarem um exemplo, na sua administração – apenas um, em todos os ministérios, em todos os partidos da sua base, entre todos os chefes de gabinetes e auxiliares de escritório, e todos os parlamentares que o apoiam, entre ascensoristas, motoristas, faxineiras, telefonistas, cozinheiras, empregados, animais de estimação, membros da sua família – apenas um sobrinho do Papa.

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