Foto: Reprodução site UN
Foto: Reprodução site UN
Poucos adultos são tão perigosos hoje no mundo todo quanto essa menina da foto. A sueca Greta Thunberg, de 16 anos, alerta para a destruição da Terra e da humanidade, conspira contra negócios, crenças, interesses e crimes cometidos em nome do progresso.
Tornou-se ainda mais perigosa porque agora discursa na ONU. E descobriram que sua ameaça foi ampliada por uma notícia disseminada como difamação: Greta é portadora da Síndrome de Asperger.
Ela nunca escondeu a informação, mas seus algozes a exploram de forma espalhafatosa. Pela descrição bem resumida e genérica do que é a síndrome, Greta deveria ter deficiências com interação com outras pessoas, com a manifestação de sentimentos e até com a expressão verbal.
O mundo dessas pessoas, em alguns casos, é quase fechado em si mesmo. A síndrome é uma espécie de autismo e poderia fazer com que a sueca, mesmo sendo muito inteligente, estivesse resguardada em seu planeta particular. E Greta faz o contrário.
O planeta da sueca é o nosso, o que muita gente não quer ver, esse mundo a caminho da destruição pela ganância, pela indiferença e pela ignorância.
Greta disse na ONU, dirigindo-se sempre aos adultos: “Aqui e agora é onde demarcamos o limite. O mundo está acordando e as mudanças virão, gostem vocês ou não”.
Milhões não gostam. A direita acionou suas vozes ma política, na imprensa e nas redes sociais para que depreciem Greta. Se possível, que a desqualifiquem, como fizeram com todos os líderes pacifistas.
Gandhi e Luther King, por exemplo. Os dois foram seres imperfeitos, com muitos defeitos, apesar de alguns acharem que seriam inatacáveis. Mas atacavam um e outro com o moralismo da época, que se reproduz hoje com o mesmo formato e a mesma virulência.
Gandhi e Luther King seriam machistas e, ao mesmo tempo, seriam gays. Ser gay, na primeira metade do século 20, era um defeito ou uma doença, segundo o mundo dos reacionários. No Brasil do bolsonarismo, continua sendo.
Greta teria, nessa mesma linha de raciocínio, o defeito de ser portadora de uma síndrome. Se é diferente, se vê o mundo de um jeito especial, se ataca o dinheiro e o capitalismo, pode ser perigosa. Porque não seria uma menina normal.
O radicalismo de Greta deveria, dizem eles, ser substituído por um discurso mais moderado, por uma conversa mais liberal. Mas não há retorno. Ela advertiu em Nova York que entrou numa guerra.
“Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias e eu ainda tenho sorte. Pessoas estão sofrendo. Pessoas estão morrendo”, disse a adolescente.
É a verdade jogada na cara dos defensores do crescimento a qualquer custo, incluindo os brasileiros que seguem seu líder da extrema direita. Por isso, é natural que os predadores reajam.
Mas saber que eles contam com a adesão de jornalistas é constrangedor demais. O jornalismo que apoia Bolsonaro está empenhado em destruir Greta, antes que ela mobilize as crianças e os adolescentes e ajude a evitar a destruição do mundo.
Mas os reacionários radicais, que se juntaram a Bolsonaro para atacar até Raoni, terão de aguentar a radicalidade de Greta. Um dia ela disse: ser diferente pode ser um superpoder. Que seja.
* Moisés Mendes é jornalista. Escreve quinzenalmente para o Extra Classe