Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
O fogaréu consome o Pantanal e quem estiver por perto de Ricardo Salles, o homem da boiada. Caiu o coronel da PM Homero de Giorge Cerqueira (foto), que presidia o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Foto: Reprodução/PM-SP/Twitter
Foto: Reprodução/PM-SP/Twitter
Militares tombam no governo Bolsonaro como se estivessem numa guerra. Caem oficiais das Forças Armadas e das polícias militares, também consideradas decisivas para a base ideológica bolsonarista nos quartéis
Já tombaram seis generais, todos mandados embora sem muitas explicações. Vão embora e ficam quietos, como se tivessem mesmo feito alguma coisa errada. Bolsonaro cala os militares que demite.
São mais de 5 mil militares no governo, convocados para funcionar como escudos do bolsonarismo. São eles que protegem um governo incapaz de se segurar sozinho.
Generais, coronéis, capitães – todos fazem parte de uma estratégia de militarização do governo, desde que não tenham protagonismo. Bolsonaro é incapaz de governar apenas com o suporte político de civis, mas sem concorrências.
Se dependesse apenas dos políticos profissionais, Bolsonaro seria um governante ainda mais inseguro. Com os militares, conseguiu o que para muitos parecia improvável e trocou proteção por emprego.
Os militares são empregados de Bolsonaro, a maioria sem habilitação para as áreas em que atuam. O próprio Cerqueira chefiava um setor complexo, que exige histórico e qualificação. Era apenas um coronel da PM lidando com o que não entendia.
Os militares acomodaram-se no poder. No Conselho da Amazônia de Mourão, os conselheiros são militares. Todos eles. São 19 oficiais.
Na Saúde, em meio a uma pandeia, o ministro interino, provisóro e quase permanente é Eduardo Pazuello, que nunca antes teve contato com saúde pública.
O Datafolha mostrou que 88% dos brasileiros não sabem que ele é o ministro da Saúde. Porque a tarefa de Pazuello é não aparecer. Nem ele nem todo o alto comando da Saúde, que é militar
Se mostrar a cara demais ou se contrariar a ala hegemônica do governo, orientada pelos filhos de Bolsonaro, serão mandados embora. Como Bolsonaro mandou Santos Cruz, chefe da Secretaria de Governo, o primeiro general a cair, em junho do ano passado.
Santos Cruz tentou se meter na gestão das ações e dos recursos da área de comunicação do Planalto. Passou dos limites ao desafiar os chefes de um reduto aparelhado e com uma dinheirama sob controle dos garotos da família.
Santos Cruz perdeu, porque os generais sempre perdem, saindo ou ficando. Como aconteceu com Braga Netto, chefe da casa Civil e tutor de Bolsonaro.
Braga Netto foi humilhado por Paulo Guedes na famosa reunião de 22 de abril, aquela da boiada, das hemorroidas e dos vagabundos do Supremo.
Guedes disse, na frente de todos os ministros, que o general era despreparado ao anunciar o programa Pró-Brasil, para retomada de investimentos públicos, como se fosse um Plano Marshall.
Em tom professoral, Guedes ensinou que não haveria como repetir aqui nada parecido com o plano americano do pós-guerra. Braga Netto encolheu-se e seu programa foi para uma gaveta.
Os generais que saem não dizem nada, com exceção de Santos Cruz, e os que ficam apenas defendem Bolsonaro de forma incondicional.
Como Augusto Heleno fez em junho ao ameaçar com as “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”, se o celular de Bolsonaro fosse apreendido para perícia no inquérito sobre ingerências na Polícia Federal.
Santos Cruz é o único que fala, para dizer que Bolsonaro se afastou do combate à corrupção e que o Exército não é governo. São falas circulares, sem ênfase, sem o poder de questionar o governo que o mandou embora.
Se o Exército é uma instituição do Estado e se não apoia manifestações golpistas (como disse Santos Cruz), como Augusto Heleno e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, estiveram com Bolsonaro em atos contra o Supremo e pró-ditadura em Brasília?
A voz de Santos Cruz é solitária e parece não ter ressonância entre os que poderiam reagir entre os fardados de fora do governo, se é que alguém pensa em reação.
O que há é resignação. Chegaram a prever que em algum momento as Forças Armadas iriam se afastar de Bolsonaro, para que a instituição e a reputação dos generais fossem preservadas.
Nada aconteceu. Bolsonaro se escora na força de quem usa farda, como Salles tentou se segurar com o coronel Cerqueira, que chamou outros colegas fardados para o seu lado e militarizou o ICMBio.
Cerqueira seria parte do plano da extrema direita de misturar politicamente todas as fardas. Bolsonaro quer fortalecer sua influência entre as polícias militares. E parte das Forças Armadas vê as PMS como uma extensão do Exército.
Mas mandaram embora Cerqueira. O coronel pode se juntar aos que já saíram e acompanham o massacre dos colegas fardados ainda no governo sem dizer nada.
Os militares de Bolsonaro são obedientes ao seu comando. O tenente conseguiu reunir uma tropa submissa, que faz só o que ele quer que faça, enquanto a boiada vai passando.