A lição educacional
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Na mais recente crise sanitária e econômica global, a área científica é convocada a zelar pela vida. Por mais que o momento convoque os profissionais da saúde a trabalhar em distintas frentes, as ciências humanas também têm uma batalha própria a travar, pois a Covid-19 ocasiona também uma crise educacional. Como seguir vivendo frente às questões complexas e difíceis de um momento que assola uma geração que, talvez, esteja enfrentando a sua primeira grande crise social?
A proteção social do Estado, uma força ainda mais necessária em tempos de crise econômica e sanitária, torna-se centro de disputas ferrenhas: pela força com que as políticas públicas têm sido atacadas nas tendências econômicas recentes, a Covid-19 nos alerta, de forma brutal, para a importância de defesas globais que consigam assegurar as condições mínimas aceitáveis de bem-viver e a própria sobrevivência de todos.
Na lógica individual que tem pautado nossas formas de viver recentes, torna-se uma atitude violenta solicitar que os indivíduos deem conta das demandas de sobrevivência de forma pessoal, sejam elas econômicas ou sanitárias. E é neste ponto que a crise que rapidamente nos atacou também se torna um problema educacional.
Mais do que um problema de formação na escola para compreender, de diferentes perspectivas, os problemas que estamos enfrentando, a crise tem essa marca porque nos alerta para a importância do ato educativo. Ninguém sobrevive sem o outro em democracias pautadas pela possibilidade da liberdade.
E esta é uma função da educação que não se pode esquecer: o espaço da escola ainda é o principal lugar em que é possível aprender a conviver com os outros democraticamente, sejam eles semelhantes ou diferentes. É na escola um dos primeiros lugares em que é possível tornar-se menos eu. Há lições maiores na crise que vivemos? Ela tornou-se um apelo para que as sociedades repensem a centralidade da educação, para que não nos esqueçamos de olhar para o outro, pois toda a vida importa e merece ser vivida com dignidade. Uma simples, porém cruel lição.
* Pedagoga, especialista em Educação Especial Inclusiva, mestre em Educação (PPGEdu-Unisinos), com atuação nas redes públicas de ensino de Novo Hamburgo e Porto Alegre. Doutoranda do PPG em Educação da Unisinos (CapesProex) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Inclusão (Gepi/Unisinos/CNPq)