OPINIÃO

Os mais atingidos pela pandemia nas Américas

Década do Envelhecimento Saudável, que destaca a necessidade de governos, sociedade civil, agências internacionais, mídia trabalharem juntos para melhorar a vida das pessoas idosas
Por Gilson Camargo / Publicado em 19 de outubro de 2020
Celebração do “Dia dos Mortos” no cemitério da mítica cidadezinha de Tzintzuntzan, a capital do Império Purepécha, também conhecido como Pueblo Mágico, a 350 quilômetros da Cidade do México

Foto: René Cabrales

Celebração do “Dia dos Mortos” no cemitério da mítica cidadezinha de Tzintzuntzan, a capital do Império Purepécha, também conhecido como Pueblo Mágico, a 350 quilômetros da Cidade do México

Foto: René Cabrales

Os sistemas de saúde nas Américas não estão respondendo adequadamente às necessidades das pessoas idosas e devem ser adaptados à luz da pandemia de Covid-19, de acordo com um levantamento feito por especialistas da Opas. Para o Dia Internacional do Idoso, celebrado em 1º de outubro, o organismo internacional pediu atenção integral, integrada e centrada nas pessoas e serviços de atenção primária à saúde que atendam necessidades dos idosos.

Enquanto todos correm o risco de contrair a Covid-19, os idosos têm muito mais probabilidade de desenvolver a forma grave da doença; pessoas com mais de 80 anos têm uma probabilidade cinco vezes maior de morrer pela infecção. Um relatório das Nações Unidas sugere que isso pode acontecer devido a condições pré-existentes, que afetam 66% das pessoas com 70 anos ou mais. No continente latino-americano, a maioria das vítimas fatais da pandemia são pessoas com 70 anos ou mais e a faixa etária dos 60 aos 69 anos é a segunda mais atingida pela letalidade da doença.

Embora as pessoas idosas que recebem cuidados de longo prazo tenham sido as mais atingidas em todo o mundo, nas Américas, onde o atendimento à terceira idade ocorre mais em casa, o distanciamento físico é um desafio particular. “A pandemia de Covid-19 realmente enfatizou as necessidades e vulnerabilidades que pessoas idosas têm em relação ao seu direito à saúde”, ressalta Carissa Etienne, diretora da Opas/OMS. “Muitas vezes não ouvimos suas vozes e perspectivas quando se trata de seus próprios cuidados. Pessoas idosas têm o mesmo direito de cuidado que qualquer outra pessoa. Nenhuma vida é mais valiosa que outra”, lembra.

Mesmo antes da pandemia, até 50% das populações com idade mais avançada em alguns países de baixa e média rendas não tinham acesso a alguns serviços essenciais de saúde – um problema que a Covid-19 apenas exacerbou. Mas não basta garantir que as pessoas idosas tenham acesso aos serviços essenciais de saúde, observa Enrique Vega, chefe da Unidade de Curso de Vida Saudável da Opas. Os serviços também devem ser adaptados às necessidades específicas dessas pessoas. “Como cada pessoa idosa pode ser afetada pela Covid-19 ou qualquer outra doença, depende de sua saúde física e mental geral. Portanto, os cuidados e o tratamento devem sempre levar isso em consideração”, acrescenta.

Longevidade ameaçada

Até o ano 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos de idade em todo o mundo e nas Américas deve dobrar. Em 2025, 18,6% da população total da região terá 60 anos ou mais. A América Latina e o Caribe são a segunda região de mais rápido crescimento da população acima dessa faixa etária. No entanto, o aumento da expectativa de vida não se traduz em qualidade de vida. No Brasil, 76% das mortes por Covid-19 de fevereiro a setembro ocorreram entre adultos com 60 anos ou mais.

Envelhecimento saudável

O ano de 2020 marca o início da Década do Envelhecimento Saudável, que destaca a necessidade de governos, sociedade civil, agências internacionais, mídia e outros trabalharem juntos para melhorar a vida das pessoas idosas, suas famílias e comunidades, além de combater o preconceito e o estigma. “Envelhecer com saúde é desenvolver e manter habilidades funcionais que possibilitem o bem-estar no envelhecimento”, alerta Enrique Vega, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

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