O ano da pandemia
Capa: Fábio Edi Alves/Bold Comunicação
Capa: Fábio Edi Alves/Bold Comunicação
Infelizmente, apesar a iminência da vacina, tudo indica que entraremos 2021 com altos índices de contaminação e também de mortes. Um ano que mostrou o quanto o poder público tem responsabilidades sociais e políticas das quais não pode omitir-se. Apesar de termos visto o oposto. Um ano que também evidenciou o quanto o poder econômico – também chamado de ditadura econômica – dita as regras e os atos na política conforme os interesses de mercados acima dos valores humanos.
Nossa edição de dezembro não perde o olhar deste aspecto do entrelaçamento entre economia, política e sociedade. Do poder do dinheiro, que rege a política, que manda no dia-a-dia das pessoas comuns. Um exemplo é a reportagem-capa, que mesmo falando do período da nossa história, a Ditadura Civil-Militar (1964-1985) também fala dos dias de hoje. Aliás, alguns insistem em chamar de revolução, outros sustentam que foi golpe, mas há até mesmo quem nomeie o período como “movimento de 1964”, tal e qual referiu o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, logo depois da posse de Jair Bolsonaro como presidente.
Mas o fato é que ditaduras, golpes, revoluções e movimentos só acontecem se forem financiados. Assim como as guerras. Há uma antiga anedota em que alguém instiga “viva a revolução!” e alguém retruca “mas quem vai patrocinar as armas?”. Diante disso o Ministério Público Federal tem, a partir dos relatórios da Comissão Nacional da Verdade, investigado a participação de grandes empresas brasileiras, muitas ainda ativas, não apenas no financiamento, mas na repressão direta, na perseguição de pessoas e nas violações dos direitos humanos.
Também reflexo da influência do vil metal, do viés sexista e de classe social na composição e cultura judiciária brasileira está a reflexão que a juíza aposentada Kenarik Boujikian nos traz em entrevista. Ela, que foi responsável, dez anos atrás, pela condenação do médico Roger Abdelmassih a 278 anos de prisão por mais de 50 estupros e tentativas de abuso de mulheres em seu consultório. Kenarik esmiúça o caso recente que expôs uma vítima, Mariana Ferrer, a cenas de humilhação proporcionadas pela própria Justiça em uma sessão que entrou para a história como a que gerou o eufemismo “estupro culposo”. Para Kenarik, o Judiciário brasileiro, devido ao seu perfil conservador, branco, machista e elitista, acaba sendo parcial contra as minorias sejam étnicas, de gênero ou de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Também nesta edição: L.F. Verissimo, Edgar Vasques, Marcos Rolim, Fraga, Rafael Corrêa e Marco Weissheimer. E muito mais. Boa leitura!