Frustração e infância: uma relação possível?
Foto: Pexels/Yan Krukov
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As emoções permeiam nosso dia-a-dia. Elas podem ser boas ou ruins e qualquer mudança em nosso estado emocional pode ser percebido por quem está ao nosso redor, uma vez que as reações são visíveis. Elas podem estar relacionadas a um evento, a um objeto de desejo, a um fato momentâneo, e tende a provocar uma reação aguda, podendo ser tristeza, raiva, medo ou frustração. Chegamos ao ponto!
Sendo a frustração uma reação a um estado emocional, causado por um desequilíbrio, que é sentido por cada sujeito de forma singular, como aprendemos a lidar com esse sentimento, de modo a vivermos em equilíbrio com nossa saúde emocional? E ainda, como as crianças podem equilibrar este sentimento de forma que possam compreendê-lo e senti-lo efetivamente?
A psicóloga Heloisa Cambui destaca, no livro A Constituição Subjetiva e saúde mental: contribuições Winnicottiana, que o ambiente é promotor de saúde e facilitador no processo do desenvolvimento emocional e que o estado emocional infantil pode ser dividido em duas dimensões: reatividade e autorregulação. Sendo a reatividade relacionada a forma com que a criança reage a uma situação de frustração com diferentes intensidades e a autorregulação, refere-se ao como ela se reorganiza, ou seja, equilibra-se novamente.
Quando pais/mães ou educadores se colocam no lugar de “causadores” da frustração, pelo fato de trocar o “sim” pelo “não”, este movimento poderá gerar diversos sentimentos nas crianças, uma vez que todos geralmente estão envolvidos emocionalmente. Mas, é necessário entender que o “não” em muitas vezes é sinônimo de segurança e afeto e servirá como base para a prevenção de futuras frustrações.
Acolhimento e diálogo
Para ilustrar, imaginemos situações como: alcançar um brinquedo que está no alto de um móvel, não conseguir encaixar peças de blocos de montar, não conseguir equilibrar-se ao andar de bicicleta, desejar um brinquedo que está com outra criança, são experiências que para algumas crianças podem causar uma crise emocional e ela ainda não possui recursos para lidar com suas emoções, gerando assim momentos de frustração.
A atuação do adulto neste momento é fundamental, sejam os pais ou educadores, precisam acolher a criança, de maneira empática, permitindo que ela fale sobre o que está sentindo, identificando sua emoção. É importante dialogar com a criança, para que ela entenda que as emoções são naturais e frustrar-se por não conseguir algo faz parte do desenvolvimento saudável das pessoas.
Mas, se a criança for poupada e o adulto tomar para si a resolução imediata do conflito vivido pela criança, esta não terá a oportunidade de elaborar mecanismos para superar o que lhe causou aborrecimento, podendo assim acarretar em prejuízos futuros no desenvolvimento da criança, uma vez ela tenderá a apresentar dificuldades para enfrentar as frustrações tidas como “normais” na vida adulta; por exemplo não ser admitida em um emprego que almeja após uma entrevista ou não obter a aprovação em um vestibular e em outras situações corriqueiras da vida.
O papel da escola
Deste modo, a frustração por mais estranho que pareça, é condição para desenvolver a capacidade de enfrentamento e se constitui em uma das bases para a aprendizagem socioemocional. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), todas as escolas devem atender em seu currículo propostas que contemplem as habilidades sócio emocionais.
Se a escola tem como princípio ser um ambiente o qual se aprende a conviver coletivamente, tendo espaço para escuta e valorização das diferenças, em que se produz cultura, arte e conhecimento científico, respeitando a pluralidade e a singularidade de todos os atores, muito provavelmente estamos diante de um ambiente emocionalmente saudável. Assim, compreendemos que a escola tem um papel primordial no desenvolvimento sócio emocional dos educandos.
As habilidades socioemocionais se constituem, sem dúvida, em uma preparação para a superação da frustração nos diversos setores de nossa vida. Com o desenvolvimento de ações como: autocontrole, tomada de decisão, autogestão, desenvolvimento de habilidades de relacionamento e percepção social, tendemos a compreender melhor nossos erros e acertos mediante uma frustração, porém, o desenvolvimento destas competências é lento, gradativo e demanda, na maioria das vezes, a mediação de um adulto.
Fernanda Mendes Arantes e Idenilda Miranda são professoras. Fernanda é doutoranda em Educação. Idenilda cursa especialização em Neuroeducação. Ambas tratarão do tema frustração na infância, no dia 16 de setembro de 2021 no programa Conversa de Professor, da Fundação Ecarta, com transmissão ao vivo pelo canal da Fundação no Youtube.