Foto: Tânia Rego/Agencia Brasil
Foto: Tânia Rego/Agencia Brasil
Quem pouco ou muito guerreou na vida, em lutas cotidianas por ideias, emprego, comida, sonhos, amores, amigos e parentes, terá batalhas inéditas em 2022. Teremos a chance, oferecida pela democracia, de resgate de quase tudo o que perdemos nos últimos anos.
Será a primeira eleição presidencial da era Bolsonaro. A primeira em meio a uma pandemia que não termina nunca. Será o grande teste sobre o que queremos mesmo para o país e para todos nós.
Muitos têm escrito nas redes sociais que 2022 precisa ser o ano dos reencontros, em todos os sentidos. É um desejo, uma torcida, que antes terá de passar por grandes desafios.
Será o ano em que o poder das instituições será testado como nunca desde a ditadura. Qual é a real capacidade de resistência do Supremo diante do avanço do fascismo?
Qual é a autonomia do Ministério Público e do Judiciário para levar adiante as investigações e os resultados da CPI do Genocídio?
Quem acredita mesmo que as sete dezenas de pedidos de indiciamento da CPI resultarão em alguma providência efetiva, com a punição dos criminosos das facções da cloroquina e das vacinas?
É possível que o Judiciário enquadre generais e coronéis apontados por omissão ou por envolvimento em desmandos com as quadrilhas da pandemia?
Os filhos de Bolsonaro, sempre tão à vontade, tão impunes e tão agressivos, serão finalmente submetidos aos rigores das leis? O próprio Bolsonaro escapará de mais de 30 processos, incluindo um em que é acusado de incentivar o estupro?
O Brasil terá de dizer em 2022 se tem coragem para retomar as investigações da CPI das fake news num ano eleitoral. E se a Justiça será capaz de conter as negociatas com as emendas secretas do Congresso.
2022 testará a submissão de pobres e miseráveis ao mais dramático quadro de degradação da vida em todos os tempos. Até quando a pobreza ficará desamparada e inerte, se nos países ao redor os pobres sempre reagem e afrontam o poder que os explora?
Essas são guerras de todos, mas teremos também as guerras pessoais. Em 2022, as relações familiares sequeladas pelo bolsonarismo serão testadas ao limite.
As tentativas de reencontros se darão em ambientes tensionados. Arrependidos por terem ajudado a eleger um governo autoritário e negacionista tentarão fazer o delicado caminho de volta.
2002 deve ser o ano do acolhimento, da compreensão, da aceitação dos erros, os nossos e os dos outros. É difícil, mas não há outra saída, ou conviveremos para sempre com a possibilidade de novos rompimentos.
Decisões pessoais singelas vão contribuir ou complicar as tentativas de resgate da normalidade.
É nesse ambiente em que se dissemina a notícia de que Bolsonaro defende o armamentismo porque um dia o Brasil imitará Bolívia, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela e terá grupos paramilitares alinhados à extrema direita.
Este será o ano em que as novas gerações do final do século 20 e deste início de século 21 experimentarão algo que só os mais maduros conhecem. A propagação pelo fascismo de que a ameaça agora é de novo o comunismo.
A extrema direita, aliada com a grande imprensa, espalha o medo do comunismo como se lidasse com algo concreto. Usam a mesma tática das mentiras de 2016, no golpe lavajatista comandado pela Globo e que acabou criando Bolsonaro contra a própria Globo.
O alerta sobre o comunismo passa a ser a farsa retórica preferida do reacionarismo brasileiro. Ameaçam com os comunistas, enquanto o país vê na TV o aumento das filas do osso.
Enquanto pais erguem cartazes desesperados nas sinaleiras e mães não vacinam os filhos, tomadas pela resignação dos manipulados pelos fundamentalismos político e religioso.
As batalhas e as guerras de 2022 terão muito das armas de 2021, mas com uma chance única de reabilitação. O brasileiro poderá se desfazer do horror que inventou em 2018.
A democracia que permitiu o surgimento de Bolsonaro poderá se livrar dele, para que não tenhamos nunca mais um presidente sabotador da ciência e da vacinação, que agride as instituições e passeia de barco enquanto a Bahia chora seus mortos.
2022 será o que quisermos que ele de fato seja. Que seja um ano de mais envolvimento com nossos destinos e de menos desculpas e omissões.
Moisés Mendes é jornalista. Escreve quinzenalmente para o Extra Classe.